quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A VOZ DAS ELITES

Fazia muito tempo que o quarto poder não se manifestava publicamente sem pudor. O discurso politicamente correto das elites, sempre mascarado na racionalidade econômica, que impede acessar ao conteúdo ideológico direcionado a institucionalizar os privilégios do poder subterrâneo, torna-se eficaz para manipular e descontextualizar fatos, que por sinal fazem parte de um processo histórico que precisa ser entendido num contexto dialético mais amplo.
O uso da prepotência verbal para agredir um presidente latino-americano, nunca poderia vir de um rei que faz parte de uma família parasitária que está no poder na Espanha há cerca de 600 anos. É muito triste observar pessoas que reproduzem o colonialismo cultural através de discursos aparentemente democráticos, mas que encerra na sua essência a manutenção dos privilégios econômicos e de dominação de classe. Não se trata de defender a identidade política de Hugo Chávez ou seu percurso para uma sociedade fundada num modo de produção diferente do capitalismo. O objetivo deste artigo é deixar de lado o maniqueísmo intelectual e evitar cair na tentação de transformar em demônio apenas um dos lados da história. É muito importante que os leitores saibam, além das anedotas de chacota, que tal rei espanhol teve o arroubo de mauricinho imperial depois de ficar irritado com os presidentes do Brasil e Chile quando questionaram a atuação espoliadora das empresas espanholas nos seus respectivos países.
Não apenas isso, durante a conferência, os presidentes Ortega e Kirchner também criticaram a intervenção do ex-primeiro ministro espanhol José Maria Aznar, tanto no processo eleitoral da Nicarágua como nas exigências econômicas sobre uma fragilizada Argentina. Por outro lado, pouca gente sabe que o golpe contra Chávez em 2002 foi apoiado e reconhecido imediatamente por a Espanha de Aznar e Juan Carlos, de modo a defender os interesses do bandido Pedro Carmona, sócio de várias empresas espanholas, que usurpou o poder da Venezuela apenas por três dias, e logo fugiu com o dinheiro do cofre do Palácio Miraflores, sede do governo.
A verdadeira democracia, independente de quanto uma pessoa fica no poder, é ter a capacidade de distribuir as riquezas que a sociedade produz coletivamente, de modo a atender as verdadeiras necessidades do ser humano, principalmente com justiça, dignidade e eqüidade social.