No início dos anos noventa, em conversa nos corredores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dizia para meus colegas de Mestrado que a globalização econômica era uma armadilha de alguns poucos para ganharem dinheiro de forma piramidal. Em resposta, era tratado como um “dinossauro comunista”. Como se colocar em contra, diziam, de um modelo que prometia prosperidade para todo o mundo? Hoje, de acordo com os acontecimentos recentes, a resposta surge nítida até para aqueles que estão longe do hermetismo econômico. O neoliberalismo, com suas artimanhas, criou do nada uma sociedade dual, estruturada num verdadeiro apartheid social. Um modelo no qual existe um pequeno setor de integrados e outro que vai ficando completamente excluído. Sua característica hegemônica, o transforma num modelo com formato de dominação de classe, adequado às relações econômicas, sociais e ideológicas contemporâneas. Impondo tal ideologia no senso comum da sociedade, tal modelo se institucionaliza. Interpretado como processo normal, ninguém era, até agora, capaz de criticar uma geração de executivos descontrolados e gananciosos, que eram capazes, como no caso dos seis diretores do Lehman Brothers, apesar da crise, dividirem entre eles um bônus de US$ 150 milhões. Ou como o falido Bear Stearn, que entregou US$ 40 milhões para seu presidente antes da queda. A recente descoberta pelo governo americano, da distribuição de 18 bilhões de dólares em bônus para os executivos dos bancos privados, traz a tona a pouca vergonha do modelo econômico capitalista. Num ambiente dessa natureza, a tentação para o risco, torna-se irresistível, até porque, depois do desastre previsível, não existe possibilidade de que o picareta de colarinho branco seja obrigado a devolver o que ganhou. A suposta competência globalizada possui características selvagens. Não existe outra regra que não seja a força bruta daqueles que dispõem de grandes massas de capital líquido para fazê-los jogar especulativamente nos mercados, às vezes por um ou dois dias. Um mercado sem regras e sem um Estado vigilante, não pode, de forma rigorosa, ser competitivo. Na selva reina o mais forte, e não existe sentido em dizer que há igualdade de concorrência entre o leão e a gazela.
Não há nada de triunfal na confirmação das minhas suspeitas explícitas duas décadas atrás. O importante é saber se existe a coragem de insistir numa questão nada marginal para a consolidação dos regimes democráticos: O que fazer com as vítimas do neoliberalismo? Como construir uma democracia estável e sólida sobre tão precários fundamentos sociais? Como podemos, os que fazemos parte do lado não glamoroso da sociedade, ter a certeza que podemos ir dormir sem medo de acordar num mundo ainda pior?
Victor Alberto Danich
Sociólogo – vadanich@unerj.br
Não há nada de triunfal na confirmação das minhas suspeitas explícitas duas décadas atrás. O importante é saber se existe a coragem de insistir numa questão nada marginal para a consolidação dos regimes democráticos: O que fazer com as vítimas do neoliberalismo? Como construir uma democracia estável e sólida sobre tão precários fundamentos sociais? Como podemos, os que fazemos parte do lado não glamoroso da sociedade, ter a certeza que podemos ir dormir sem medo de acordar num mundo ainda pior?
Victor Alberto Danich
Sociólogo – vadanich@unerj.br