Nestes últimos seis anos está acontecendo um
fenômeno migratório interno que merece ser analisado. Durante muito tempo,
principalmente na metade do século vinte, a imigração nordestina para os
centros urbanos do sul desenvolvido transformou-se num fluxo constante. No
entanto, os chamados “paus-de-arara” que transitavam o sertão nordestino rumo a
São Paulo, estão começando a mudar essa paisagem exatamente ao inverso. É o que
revela a recente pesquisa do Departamento de Economia da Universidade de
Paraíba – UFPB. Entre 2002 e 2007, houve um fluxo de mais de 400 mil pessoas
nessa direção, que mostra que das 862 mil pessoas que foram morar no nordeste,
47,5% eram indivíduos que estavam voltando a seus locais de nascimento. Por
outro lado, apesar de que o retorno acontece, frequentemente, por falta de
oportunidades em função da saturação das fronteiras agrícolas ou construção
civil, pode-se dizer que existem outros fatores regionais que são determinantes
nesse processo de migração interna em direção ao nordeste brasileiro.
A razão fundamental encontra-se no crescimento
acentuado dessa região em relação às demais, provocando uma vigorosa
urbanização com 70% da população nas cidades. Desse modo, a migração rural
passa pelas pequenas localidades e vai diretamente para as grandes. Tal
fenômeno se expressa na opção da escolha de uma capital nordestina no lugar de
São Paulo. Ainda assim, existem outros condicionantes importantes que merecem
ser destacados, que são as melhorias substanciais das condições sociais no
nordeste experimentado nestes últimos anos. Mais da metade das famílias pobres
recebem algum tipo de benefício federal, tanto da Previdência Social como do
Bolsa Família, o que funciona como um mecanismo de contenção da miséria.
Segundo a pesquisa, das 14,5 milhões de famílias nordestinas, sete milhões
recebem da Previdência e 5,6 milhões do Bolsa Família. Além disso, o salário
mínimo que contempla dois terços dos assalariados da região, tem um forte
impacto nas atividades econômicas, que redundam num processo vigoroso de
inclusão social.
Todos esses componentes, aliados ao surgimento de
novos pólos de desenvolvimento, fazem com que as pessoas terminem fortalecendo
seus vínculos com a região, no qual o campo da ciência e a tecnologia se
encontram em pleno processo de crescimento, com destaque para cidades
nordestinas que recebem reconhecimento nacional e internacional pelos seus
institutos tecnológicos avançados. Temos o caso de Recife, que possui um pólo de
desenvolvimento de softwares, transformado numa referência mundial e
reconhecido como o maior parque tecnológico do Brasil, tanto em faturamento
como números de empresas abrigadas nesse complexo. Vale destacar Campina
Grande, no interior da Paraíba, como uma das cidades que incorporaram um modelo
de centro de inovação tecnológica, resultado do fortalecimento da formação
acadêmica por meio da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, com
destaque nas áreas de engenharia elétrica e computação. Por outro lado, cabe citar
o Centro de Biotecnologia e
Terapia Celular do Hospital São Rafael, em Salvador, que é o mais moderno e
avançado centro de estudos de células-tronco da América Latina,
junto com o centro de pesquisa e desenvolvimento da neurociência em Macaíba no
Estado de Rio Grande do Norte. Alguém poderia duvidar da capacidade dos nossos
irmãos nordestinos?
Victor Alberto Danich
Sociólogo