Quando se escreve sobre economia política, a melhor maneira de organizar o tema é a contextualização histórica, como forma de prescrever a origem de qualquer fenômeno. Já que há pessoas que se preocupam com muros, vou acrescentar alguns dados importantes para enriquecer o assunto. Vamos começar pelo Muro de Berlin, que talvez seja o mais conhecido por causa de um mundo polarizado entre duas potências imperialistas inimigas durante o breve século 20. O muro citado tinha 155 km de extensão e em alguns pontos até 4,20 metros de altura, com torres de vigilância, bunkers e canais. Foram 5.075 pessoas que fugiram entre a construção e a queda do Muro de Berlin através de túneis e balões. Desse total, 223 pessoas morreram ao tentar atravessá-lo entre 1961 e 1989. Resulta conveniente relembrar a existência de outros muros pós-comunistas, com características similares. O muro que divide a Cisjordânia de Israel e aquele que impede a passagem de imigrantes mexicanos para os Estados Unidos são os mais emblemáticos. O primeiro, no oriente médio, tem 721 km, dos quais 20% está situado na antiga linha Verde, definida em 1948, e os 80% restantes encontra-se em terras palestinas, isolando cerca de 450.000 pessoas. O segundo, considerado uma muralha, tem 3m de altura e 1.000 km em terras que no século 19 pertenciam ao México, além dos 2.000 km que abrange os estados de Texas, Califórnia, Arizona e Novo México. Tudo isso pontilhado por postos policiais equipados com TV e sensores remotos, além de holofotes de radiação infravermelha que projetam intensas faixas de luz para espionar, no meio da escuridão, pessoas no território mexicano que transitam próximo à fronteira. Mais de 5,6 mil pessoas morreram tentando atravessar para o lado norte-americano. Circulação de mercadorias tem trânsito livre, seres humanos não. Pode-se observar que muros desse tipo não é apenas criação dos devoradores de criancinhas. Também devemos creditar o mérito ao capitalismo, deixando de lado outros tantos, para não criar mal-estar, que são os muros das Alphavilles da vida.
Por outro lado, como sou considerado o “Novo Homem de Marx” residente em Jaraguá do Sul, devo esclarecer aos meus leitores que o relato “curioso” sobre as empresas das duas Alemanhas na minha coluna da terça passada, tem como referência o semanário Francês conservador Le Monde Diplomatique, intitulado “Un formidable transfert de proprieté” (Rowell, Jay; abril de 1997). Se alguém estiver interessado em maiores informações sobre o caso, posso ampliar o tema futuramente.
Para finalizar, gostaria de dizer que Marx nunca teve nada a ver com muros. Ele era apenas um pensador que descobriu o fenômeno da composição orgânica do capital, nunca analisado pelas teorias clássicas de valor e lucro. Seguramente nem sequer sabia com se assenta um bloco para construir um muro. Posso afirmar que nisso há uma diferença notável entre Marx e eu, já que trabalhei como servente de pedreiro na construção da minha casa. Portanto, de muros eu entendo, principalmente na interação dialética entre o trabalho manual e intelectual. Outros, talvez por alguma deficiência, sejam incapazes de observar além dos “muros” da sua própria realidade, que lhes permita ultrapassar suas fronteiras maniqueístas.
Victor Alberto Danich
Sociólogo