sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A NEUROSE DO DESTINO

Nascido numa geração de pós-guerra, influenciado pela retórica cultural dos países aliados, vendo filmes de propaganda americanos ao compasso de “Chattanooga choo-choo” e “St. Louis March” com a orquestra do magnífico Glenn Miller, minha juventude sofreu o impacto perturbador das “guerras justas”. As cenas idílicas no meio das batalhas entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em “Casablanca” me deixavam extasiado. Minha paixão pelos americanos não tinha limites. Era louco de desejo pela Marilyn Monroe e tinha uma brutal admiração pelo presidente Kennedy. A morte de ambos foi um divisor na minha consciência.
Descobri que o elemento de verdade por trás de tudo isso, que a maioria das pessoas está sempre disposta a repudiar, é que os seres humanos não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que podem apenas defender-se se forem atacadas. Pelo contrário, são criaturas com poderosa quota de agressividade. Ou como diria Sigmund Freud: “O seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual, mas também alguém que tenta satisfazer sua agressividade, explorar sua capacidade de trabalho sem compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se de seus bens, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo”.
Estados Unidos é um país poderoso, sofre crises e suas falhas nos atingem, sua política externa imperial nos afeta e somos incapazes de libertar-nos. Sua agressividade tem as mesmas características das nossas. No entanto, as dimensões das tragédias sempre, na história da humanidade, mantiveram sua proporcionalidade conforme o tamanho e a importância dos países. O ser humano tenta esconder sua agressividade gratuita, sejam norte-americanos ou não, através de concepções religiosas fundamentalistas, tanto no Ocidente como no Oriente, mas que no fundo esconde a “pulsão da morte”. “A finalidade de toda a vida é a própria morte” definia Freud, que confirma que a agressão corre solta no mundo, alimentada por um impulso primitivo nessa direção. De Afeganistão ao Iraque, a tortura tem sido o sócio silencioso da cruzada pela liberdade do mercado global. A morte prematura do ser humano perante a chama do capitalismo em estado puro, é mostrada como o ponto final da evolução ideológica da humanidade.
A “neurose do destino” torna-se assim, numa compulsão a repetir uma experiência dolorosa, que se instala de maneira inconsciente nas fantasias de um povo, a ponto de se empenhar ao máximo em se deter em infelicidades e afrontas, tentando de forma neurótica dar formas realistas a esses sentimentos. O que até então era uma ficção cinematográfica do combate entre Eros e Tânatos, termina configurando-se numa destrutiva e demoníaca realidade.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

CRÔNICA DE ALERTA

Esta crônica está focada naqueles que não conseguem dormir perante a previsão de crises mirabolantes. Desse modo, tentarei usar a temática política para desmentir a opinião dos chamados “especialistas de risco”, que são indivíduos comprometidos com a especulação financeira global, e que ganham dinheiro assustando as pessoas com presságios de um futuro incerto. Nesse caso, como tenho pouco espaço para argumentar tecnicamente, tentarei enunciar alguns itens para o leitor se acalmar. Quem sabe não seja essa uma forma exitosa de desqualificar os gurus neoliberais:
1. Acredite na medida provisória do nosso governo para socorrer aos bancos, além da ampliação do crédito para o fortalecimento do agronegócio, da produção de ferro e do petróleo.
2. Não compre dólares, confie no seu país. Os especuladores usam essa moeda para provocar o “efeito manada”. Lembre-se que o governo tem dólares sobrando. Podemos até enrolar charutos ou usá-los como papel higiênico.
3. Não acredite no Fundo Monetário Internacional. Ele está de novo ao ataque. Quer emprestar dinheiro aos emergentes para continuar mantendo sua tropa palpiteira. Inventou o termo “procedimento de emergência” para tirar dinheiro dos pobres.
4. Não se deixe enganar com desvios de atenção. Os gurus fracassados usam o método freudiano da “transferência” para culpar os outros de seus desacertos. Tentam aterrorizá-lo com os demônios Fidel, Chávez, Correa, Morales, Kirchner e ...Lula!!! Não se espante, também nosso presidente é colocado no rol dos lucíferes.
5. Não precisa estudá-los, mas lembre-se destes nomes. São os pensadores que previram as crises cíclicas do capitalismo e sua exuberância irracional: Marx, Engels, Veblen, Keynes, Lênin, Luxemburgo, Trotski, Guevara, Stiglitz, Furtado e Prebich, além do mais recente prêmio Nobel de Economia: Paul Krugman.
6. Sugiro esquecer estes outros, nos quais há pensadores, políticos e patifes: Samuelson, Friedman, McNamara, Kissinger, Thatcher, Reagan, Menem, Pinochet, Strossner, Rice, Cheney, e outro inominável.
7. Lembrem-se, se forem viajar ao exterior, os nomes dos bancos seguintes: Merrill Lynch, Lehman Brothers, Washington Mutual, Fannie Mae, Freddie Mac, Morgan. Não façam negócios com eles. Estão infestados de “ladrões de colarinho branco”.
8. Se forem aos Estados Unidos, e não quiserem que aconteça qualquer coisa de ruim com vocês, não pronunciem o nome do presidente de lá corretamente. Só de pensar, traz má sorte.
9. Por último, e para não parecerem mandamentos bíblicos, finalizo no item nove com esta alegoria: “O mercado absoluto, sem a intervenção do Estado, se assemelha a um prostíbulo global”. Você confiaria em alguém que faz sexo por dinheiro?
Victor Alberto Danich
Sociólogo