quinta-feira, 19 de novembro de 2009

APAGANDO A MEMÓRIA

Num país dominado pelos contrastes ideológicos entre norte e sul, no qual os críticos de plantão fazem apologia de alguns problemas sazonais, para depois tentar esconder, por incapacidade ou frustração, as conquistas recentes realizadas pelos governos latino-americanos, buscam suas justificativas em aparentes juízos de valor, muito distante daquilo que a realidade nos mostra. O Brasil, apesar dos problemas que nos acossam, resultado de longas experiências econômicas fracassadas, encontra-se atualmente num momento virtuoso. Nesse contexto, a exaltação dos opositores em focar suas críticas nos problemas de gestão, dos déficits institucionais, do populismo, da concentração de poder e da corrupção, em nenhum momento centram no eixo de suas campanhas a procura da igualdade social e a luta contra a pobreza. Não por acaso os setores mais pobres da população se converteram na base política do atual governo. Sinto-me em desvantagem por estar colocando isto numa crônica, que seguramente passará despercebida por aqueles que gostam de cultuar as “economias de resultado”, bem ao gosto dos ortodoxos da riqueza. No entanto, o mal-estar dos saudosos do fracassado modelo neoliberal, confinados num delirante esquecimento mental, sofrem em digerir a nova reestruturação do pensamento no sul do continente. O que envolve tal descoberta? Muito simples: O desenvolvimento econômico e a democracia só são possíveis através da inclusão social. Aquela premissa de crescimento para depois repartir o “bolo” é coisa do passado reacionário e conservador.
Para finalizar, apesar de alguns me chamarem de “gringo”, por causa do meu sotaque, vou falar do meu país, que é o Brasil, e que parece não ser a pátria de muitos que aqui nasceram. Dizem-nos que o presidente Lula está surfando nos frutos das matérias-primas vendidas no exterior, ou comandando a economia nas bases sólidas do seu antecessor. Nada em contra. Porém, tal consideração raia no simplismo. O Brasil superou a pior crise econômica de pós-guerra investindo fortemente no mercado interno, e o que é essencial, através de políticas públicas de inserção social. Coisa que o gigante americano nem sonhou em fazer, enforcando-se na sua própria armadilha. O governo brasileiro, nestes últimos anos, construiu uma imagem de país consolidado, não apenas por sua potencialidade produtiva, senão por seu destaque em teses de doutorado publicadas internacionalmente. Nunca se investiu tanto em Ciência e Tecnologia através de editais do CNPq e Finep como agora. O presidente Lula é nomeado o maior estadista do ano e seus programas sociais são admirados e copiados profusamente no mundo todo. O que mais queremos? Concordo com a argumentação da existência da criminalidade e outras desigualdades. Talvez a resposta a esse interrogante esteja em que um pobre brasileiro demora um ano em consumir o que um rico gasta em três dias. Não é o atual governo o culpado disso. É a nossa própria e longa história de pesadelos e mesquinharias.
Victor Alberto Danich - Sociólogo