Em princípio, gostaria de esclarecer que este artigo não tem nenhuma pretensão de índole política partidária, e menos ainda o intuito de canalizar a simpatia por tal ou qualquer pessoa. O tema está centrado na resposta comovente de uma mulher que, deixando de lado os ódios revanchistas do passado, teve o talento de reviver o orgulho da militância em resposta a uma argüição de extrema sordidez. Refiro-me à ministra Dilma Roussef, que foi convocada pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado para falar sobre o Plano de Aceleração do Crescimento - PAC, e terminou sendo colocada numa armadilha semântica que lhe atribuía o uso da mentira como saída para qualquer tipo de interrogatório. Quando o senador Agripino Maia, do partido Democratas, insinuou que também poderia estar mentindo à atual Comissão, ao lembrar um comentário dela sobre a época em que foi presa e torturada durante a ditadura militar, a resposta da ministra veio com magistral e emocionada lucidez, própria de uma mulher talentosa e aguerrida: “Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogadores compromete a vida dos seus iguais. Entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador, porque mentir na tortura não é fácil. Na democracia, se fala a verdade. Diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira”.
Tal episódio deixa claro para nós, homens, duas coisas muito importantes para refletirmos. Por um lado, devemos aprender a policiar-nos para evitar nossos devaneios de estupidez e intolerância e, por outro, aceitar humildemente aquilo que as mulheres sempre souberam fazer muito bem ao longo da história da existência humana – sem exageros de superioridade e falsa modéstia – que foi e será o eterno refazer da nossa identidade cultural perante as forças esmagadoras da natureza. Sempre no exercício da valentia da retaguarda, segurando com maestria nossos medos e incertezas. E sempre à frente como reserva moral de um mundo construído culturalmente com feições machistas.
Tal episódio deixa claro para nós, homens, duas coisas muito importantes para refletirmos. Por um lado, devemos aprender a policiar-nos para evitar nossos devaneios de estupidez e intolerância e, por outro, aceitar humildemente aquilo que as mulheres sempre souberam fazer muito bem ao longo da história da existência humana – sem exageros de superioridade e falsa modéstia – que foi e será o eterno refazer da nossa identidade cultural perante as forças esmagadoras da natureza. Sempre no exercício da valentia da retaguarda, segurando com maestria nossos medos e incertezas. E sempre à frente como reserva moral de um mundo construído culturalmente com feições machistas.