Jean-Baptiste Say, em meados de 1800 dizia que a “utilidade” era a real fonte do valor e não propriamente o trabalho, com o argumento de que a posse do capital comportava sacrifícios semelhantes entre capitalistas e trabalhadores. Com isso tentava demonstrar que o resultado de uma economia capitalista era a harmonia social e não o confronto entre classes, na qual todos recebiam como renda uma quantidade de dinheiro em função dos sacrifícios feitos unicamente na criação de utilidade. Esse condicionante levaria a ideia do ajustamento automático da economia num modelo de “mercado livre”, em que a totalidade das ofertas criaria uma procura na mesma magnitude. Desta forma, Say transformou-se num dos mais importantes precursores da tradição neoclássica, que dominou grande parte da economia do século XIX e a totalidade do século XX. Seu discípulo Milton Friedman, já falecido (por sorte), era um economista que mantinha uma fé irrestrita na Lei de Say do automatismo do mercado, afirmando sem restrições que a instabilidade do mercado capitalista era culpa do excesso da intervenção do governo na economia. Vencido em vida pelas políticas Keynesianas, completou sua obra e sua vingança nos bastidores do além, sustentada ideologicamente pelos economistas da Escola de Chicago, Ludwig Von Mises e Friedrich Hayek. Foram estes personagens que povoaram com suas idéias as elites governantes dos Estados Unidos, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional depois dos anos 70. Invadiram com a burocracia gerencial de “seus peritos” o terceiro e o segundo mundo, da Argentina de Videla, do Chile de Pinochet à Rússia de Boris Ieltsin, e, em menor medida, entre outros, o Brasil de Fernando Henrique Cardoso e seus aliados liberais conservadores. Colonizaram culturalmente as faculdades de economia do mundo todo, seduziram governantes e social-democratas arrependidos e ressuscitaram o liberalismo hedonista do século XIX. É claro, que tal onda neoliberal não apenas aconteceu em nível acadêmico, senão que foi sedimentada planetariamente numa “terra manufaturada”, controlada pelo mercado livre, centrada numa concentração predatória e numa expansão colossal do parasitismo financeiro. Para onde foi à totalidade do dinheiro da especulação financeira que desencadeou a crise atual? Por que há tanto medo de dar “nome aos bois”? A promessa de que todos avançariam no quadro da globalização foi desmentida por uma realidade brutal. Milton Friedman e seus aprendizes de feiticeiros, em conjunto com seus congêneres executores: Richard Nixon, Ronald Reagan, Margareth Teacher e o inominável George “Bucha” deveriam ser jogados no lixo da história, para nunca mais serem lembrados. Apenas no inferno, lugar do qual nunca deveriam ter saído.
Victor Alberto Danich - Sociólogo
Victor Alberto Danich - Sociólogo
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