quarta-feira, 29 de julho de 2009

VOCÊ GOSTA DA DESIGUALDADE?

Imagino que alguma vez na sua vida você se perguntou sobre a validade desta pergunta. Seguramente vai dizer que, na sociedade, tal conceito é entendido como a antítese da igualdade, no seu sentido dual, daquilo que os seres humanos estão dispostos a defender como a melhor forma de organizar a própria convivência. Será mesmo?
Vamos aceitar a ideia de que as desigualdades naturais existem, ou como diria o pensador político Norberto Bobbio, que os seres humanos são iguais quanto desiguais: “São iguais diante da morte porque todos são mortais, mas são desiguais diante do modo de morrer porque cada um morre de modo particular, diferente de todos os demais”. Podemos conjeturar que, apesar de sermos educados para defender uma suposta igualdade, internamente ambicionamos em diferenciarmos dos nossos semelhantes a partir de atributos particulares. A pergunta surge por definição: Somos iguais ou desiguais em relação ao que? Rousseau considerava que os indivíduos nascem iguais, mas, a sociedade os torna desiguais através de um processo cultural artificialmente construído. O filósofo Nietzsche, contradizendo tal sugestão, parte da definição de que os seres humanos são por natureza desiguais, e culpa ao gregarismo moral da sociedade, assentada na religiosidade que enaltece a compaixão e a resignação, como a forma compulsiva de torná-los iguais. Vivemos num mundo maniqueísta, no qual nos movimentamos de acordo aos nossos interesses de classe. A sutileza de tal afirmação mostra-nos que o indivíduo que ocupa uma posição privilegiada na sociedade, aceite com absoluta naturalidade a desigualdade social e, aquele que se encontra em situação de classe inferior, sem forças suficientes para mudar tal situação, discorde, na sua impotência, de tal premissa.
Não podemos ignorar tal realidade. Ela está presente em todas nossas atitudes, inconsciente ou não. Não basta identificar-nos com discursos ou modos culturais de agir. Somos reféns de nossa classe social. Entretanto, devemos ser capazes de optar por escolhas, apesar das diferenças. Ser progressista ou conservador não significa querer destruir ou preservar os modelos vigentes, ou, em todo caso, viver de acordo com aqueles com os quais somos solidários, como justificativa da nossa ideologia. O problema é de consciência, que deve estar assentada no conceito relevante da inclusão-exclusão. Se por um lado, o ideal da inclusão é característica do pensamento progressista, o pensamento conservador, sem sombra de dúvidas, é notadamente excludente. Norberto Bobbio resume com maestria sua justificativa para ser um homem de esquerda: “A liberdade pode ser considerada um bem individual, diversamente da igualdade que é sempre apenas um bem social” Seria bom fazer um exercício mental para descobrir, com todas suas implicâncias, o risco de repensar o significado da pergunta inicial.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

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