segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AVATAR

Nesta semana assisti ao filme “Avatar”, que trata sobre a conquista por parte dos norteamericanos de uma das luas que orbitam Alpha Centauri, chamada Pandora, situada a quatro anos luz da Terra. O objetivo é explorar as reservas do minério Unobtanium, que representa uma importante fonte de lucros para uma corporativa humana. Como sempre, tanto na ficção como na vida real, nossos amigos imperialistas encontram maneiras incríveis de submeter os povos, seja pela força ou pela travestização de seus agentes mercenários. Para tal, os pesquisadores humanos criaram o Programa Avatar, híbridos humano-Na'vi geneticamente modificados, de modo a compartilhar material genético com um Avatar para ligá-lo mentalmente através de conexões neurais que permitem o controle do corpo do nativo. O escolhido para se apropriar da criatura Na'vi, de modo a infiltrar-se no povo de Pandora e conhecer seus costumes, é um fuzileiro naval. Como todo espetáculo hollywoodiano, termina apaixonando-se por uma bela nativa. A partir daí se transforma no herói principal do enredo, em defesa da autodeterminação dos explorados. Por causa disto, os norteamericanos perdem a guerra contra os alienígenas.
Que magnífica metáfora! Os fantasmas inconscientes da sociedade norteamericana são reproduzidos sem piedade em outras galáxias, de modo a esquecer os crimes reais no planeta Terra. Não poderia deixar de lembrar a guerra do Vietnã para fazer comparações. Naquele pequeno país asiático, heróico na sua pobreza e grandioso na sua resistência, que soube enfrentar a tecnologia infernal das bombas incendiárias no meio da selva desmatada pelo agente laranja, terminou mostrando para o mundo a capacidade de um povo na luta pela sua liberdade. Durante esses anos de terror, um milhão de toneladas de explosivos foi lançado, incluindo napalm e bombas antipessoais. Apesar disso, o vietcongue avançava implacável sobre as bases americanas. Homenzinhos de um metro sessenta de altura castigavam a toda hora as tropas desmoralizadas do exército invasor. No filme Avatar, os norteamericanos são enviados de volta para a Terra alinhados em fila indiana. Na vida real, enquanto as tropas do Vietnã do Norte avançavam sobre Saigon, as imagens das turbas colaboracionistas tentando desesperadamente entrar na Embaixada dos Estados Unidos, de modo a conseguir lugar nos últimos vôos, tornou-se um símbolo de humilhação para a superpotência, que abandonou seus sequazes sem importar-se. O povo de Vietnã, para fazer jus ao filme, também teve um herói americano que, sem necessidade de se travestir, difundiu sua imagem para o mundo todo. Para quem não sabe, essa pessoa é uma mulher, a bela e talentosa Jane Fonda. A foto dela sentada numa bateria antiaérea vietcongue, apontando para os bombardeiros B-52, é antológica. Tal atitude foi o protesto silencioso de grande parte da sociedade norteamericana, envergonhada até o mais recôndito do coração pela dimensão de tamanha tragédia humana.
Victor Alberto Danich – Sociólogo

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