O surgimento de novas lideranças em latinoamérica perturba muitas pessoas, principalmente aquelas que afirmam que o capitalismo nasce da liberdade, e que o livre mercado desregulamentado vai de mão dada com a democracia. Pode-se concordar que estas formas de populismo latino são uma resposta desarticulada ao fracasso retumbante das políticas neoliberais que inundaram o mundo nestas últimas décadas. No entanto, são poucos os que se perguntam quais são os verdadeiros culpáveis desta reviravolta. Fala-se do respeito à liberdade de imprensa, mas ninguém questiona sua visão unipolar. Nesse maniqueísmo mediático, é muito fácil afirmar que as pessoas com as quais não se está de acordo, não só se equivocam, senão que também são tiranos, fascistas ou genocidas. Mas também é certo que algumas doutrinas fundamentalistas são incapazes de coexistir com outros tipos de crenças. Desde o colapso da União Soviética houve um reconhecimento histórico dos crimes cometidos em nome do comunismo, assim como daqueles que professam uma extrema religiosidade e querem refazer o mundo conforme suas crenças particulares. Perante esses fatos, é necessário entender que, qualquer intento em responsabilizar a determinadas ideologias pelos crimes cometidos pelos seus seguidores, deve ser analisado com extrema cautela.
A cruzada contemporânea que fala da liberdade irrestrita dos mercados mundiais disfarça um modelo econômico corporativista, sustentado por golpes de Estado, guerras e matanças que serviram para apoiar regimes ditatoriais comprometidos com tal sistema. O sonho neoliberal do “capitalismo puro”, chamado por Francis Fukuyama de “o fim da história” ou “o ponto final da evolução ideológica da humanidade”, levou à crença dogmática de que o “atraso econômico” latinoamericano é produto da incapacidade de seus povos e de seus intelectuais utópicos, e não de uma longa história de pilhagem e espantosos tormentos devidos à brutal expansão de tal modelo econômico. Entretanto, vale à pena perguntar-se o que é o “capitalismo real” nessa contingência histórica. Ele não consiste apenas no desenvolvimento criativo e privado das forças produtivas. Seu lado sombrio sempre é disfarçado quando se trata de impor a idéia do progresso, da eficiência e da produtividade. A expansão do capitalismo sempre esteve vinculada a um processo histórico de espoliação e colonialismo. Durante estes últimos duzentos anos, a chantagem financeira e tecnológica somou-se à concorrência desleal e livre do poderoso frente ao fraco. Em 2006, um estudo das Nações Unidas descobriu que “o 2% dos adultos mais ricos do mundo reúnem mais da metade da riqueza de todas as residências existentes no planeta”. Tal constatação, fez com que Stephen Haggard, insuspeito neoliberal, admitisse envergonhado que “as coisas boas, como a democracia e o livre mercado nem sempre vão juntas, já que a maioria das iniciativas reformistas orientadas para esse modelo econômico, ocorreram a partir de golpes de Estado militares”. O leitor deve perguntar-se: O que tem a ver a concentração da riqueza com as ditaduras militares impostas no mundo globalizado?
A crise de 2008 deixou ao descoberto a “grande mentira” da instauração do capitalismo no seu estado puro. Enquanto a Escola de Chicago implantava um processo de “destruição criadora” assentada no monetarismo clássico, concentrando a riqueza de maneira brutal, muitos dos ferozes defensores de tal modelo, estavam, já no início do século, presos por desvios de recursos públicos ou sendo julgados. Vou citar alguns nomes: Pinochet do Chile; Bordaberry do Uruguai; Videla, Cavallo e Menem da Argentina; Sánchez de Lozada da Bolívia. Longe da gente: Mijaíl Jodorkovski, Leonid Nevzlin, Vladimir Gusinski e Boris Berezosvski da máfia russa. Perto da gente: Conrad Black; Ken Lay e Grover Norquist, além dos ladrões de colarinho branco das corretoras e bancos privados estadunidenses. Seus imperdoáveis “desvios éticos” ficaram a salvo no “Business World”. Sorte deles.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
A cruzada contemporânea que fala da liberdade irrestrita dos mercados mundiais disfarça um modelo econômico corporativista, sustentado por golpes de Estado, guerras e matanças que serviram para apoiar regimes ditatoriais comprometidos com tal sistema. O sonho neoliberal do “capitalismo puro”, chamado por Francis Fukuyama de “o fim da história” ou “o ponto final da evolução ideológica da humanidade”, levou à crença dogmática de que o “atraso econômico” latinoamericano é produto da incapacidade de seus povos e de seus intelectuais utópicos, e não de uma longa história de pilhagem e espantosos tormentos devidos à brutal expansão de tal modelo econômico. Entretanto, vale à pena perguntar-se o que é o “capitalismo real” nessa contingência histórica. Ele não consiste apenas no desenvolvimento criativo e privado das forças produtivas. Seu lado sombrio sempre é disfarçado quando se trata de impor a idéia do progresso, da eficiência e da produtividade. A expansão do capitalismo sempre esteve vinculada a um processo histórico de espoliação e colonialismo. Durante estes últimos duzentos anos, a chantagem financeira e tecnológica somou-se à concorrência desleal e livre do poderoso frente ao fraco. Em 2006, um estudo das Nações Unidas descobriu que “o 2% dos adultos mais ricos do mundo reúnem mais da metade da riqueza de todas as residências existentes no planeta”. Tal constatação, fez com que Stephen Haggard, insuspeito neoliberal, admitisse envergonhado que “as coisas boas, como a democracia e o livre mercado nem sempre vão juntas, já que a maioria das iniciativas reformistas orientadas para esse modelo econômico, ocorreram a partir de golpes de Estado militares”. O leitor deve perguntar-se: O que tem a ver a concentração da riqueza com as ditaduras militares impostas no mundo globalizado?
A crise de 2008 deixou ao descoberto a “grande mentira” da instauração do capitalismo no seu estado puro. Enquanto a Escola de Chicago implantava um processo de “destruição criadora” assentada no monetarismo clássico, concentrando a riqueza de maneira brutal, muitos dos ferozes defensores de tal modelo, estavam, já no início do século, presos por desvios de recursos públicos ou sendo julgados. Vou citar alguns nomes: Pinochet do Chile; Bordaberry do Uruguai; Videla, Cavallo e Menem da Argentina; Sánchez de Lozada da Bolívia. Longe da gente: Mijaíl Jodorkovski, Leonid Nevzlin, Vladimir Gusinski e Boris Berezosvski da máfia russa. Perto da gente: Conrad Black; Ken Lay e Grover Norquist, além dos ladrões de colarinho branco das corretoras e bancos privados estadunidenses. Seus imperdoáveis “desvios éticos” ficaram a salvo no “Business World”. Sorte deles.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
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