Resulta muito interessante poder analisar os caminhos da nossa espécie através da sucessão de mitologias. Todas as crenças relacionadas aos mitos da criação correspondem de maneira surpreendente às etapas cronológicas da história humana. Na primeira etapa, o mundo é criado do nada por uma deusa mãe. Na segunda, com auxílio de um casal criador. Na terceira, um deus macho se apropria do poder e cria o mundo sobre o corpo da deusa primordial. Por fim, na quarta etapa, um deus macho cria o mundo sozinho. Como corolário, o mito cristão consolida a transição de um universo matricêntrico para um mundo patriarcal. O onipresente Javé, deus todo-poderoso, faz o mundo sozinho em sete dias e, depois, cria o homem. Logo, num ato de soberba masculina, cria a mulher da costela deste e, finalmente, os premia com a vida no Jardim das Delícias. Mas, por culpa da mulher sedutora, o homem cede à tentação da serpente e ambos são expulsos do paraíso. Ao contrário das mitologias primitivas, nas quais a Grande Mãe era amorosa e permissiva, o deus Javé é único e centralizador, zeloso no controle e obediência de leis rígidas, cuja transgressão é sempre punida. A condenação do trabalho perpétuo é o resultado do pecado original. O trabalho escraviza o homem, e ele escraviza a mulher. A relação homem – mulher perde seu sentido solidário e se efetiva através da dominação masculina.
O culto a uma deidade feminina, na história da humanidade, sempre esteve associada a uma imagem sagrada centrada na fertilidade humana ou agrícola, como também aos ciclos naturais da vida, que remonta a tradições espirituais pré-históricas e que ainda se pratica no mundo inteiro de forma inconsciente. As imagens de deusas, desde a Idade da Pedra, simbolizam a “fecundidade, a nutrição, a generosidade, a comunidade e a própria terra” diziam seus adoradores. Nas tradições dos nativos norte-americanos e de muitas religiões africanas, as deusas femininas controlavam os ciclos de plantação, crescimento e colheita, nascimentos, pró-criação e morte. No império greco-romano, as deusas tinham características masculinas, próprio de civilizações dedicadas à conquista, como Atena e Minerva, guerreiras da sabedoria, ou Artemis e Diana, padroeiras da caça.
Podemos observar que nesse percurso da construção da vida econômica dos povos, baseados na produção de subsistência agrícola, as figuras principais em tal formatação cultural estava centrada no culto às mulheres. A Grande Mãe (Magna Mater) romana era descendente direta da deusa da fertilidade Cibele, que, na tradição semítica era conhecida indistintamente como Astartéia ou Ester. A protetora do hinduísmo (Devi) que é deusa venerada através de variados cultos, entre elas Parvati, Durga e Kali, de inúmeros braços, representavam a suavidade maternal com aspectos de ferocidade guerreira em seu papel de protetora.
Na dimensão do sobrenatural das civilizações, o feminino impregnava o universo social da antiguidade, tanto, que o culto Católico Romano à Virgem Maria provém dessas tradições. Torna-se evidente que tal imagem religiosa, no mundo contemporâneo, tornou-se uma mera figura coajudante do deus macho. Qual foi o resultado de tal processo?
As sociedades de origem matriarcal, demonstradas pelo próprio culto às deusas, tão antigo como a própria humanidade, postulavam uma Mãe Terra, criadora primordial do universo. Quando a sociedade patriarcal destituiu as mulheres do seu poder criador, a Deusa Primordial perdeu seu papel centrado nos ciclos agrícolas e de fecundidade, e foi substituída por um deus masculino poderoso, fazedor de tudo que existe na terra, distante e impenetrável, configurado no centralismo racional do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. Do ponto de vista científico, tais configurações estão relacionadas aos aspectos espirituais da sociedade, encampadas na essência das crenças religiosas. Entretanto, ainda assim, existe uma dívida monumental para com as mulheres, que é restituí-las de sua condição histórica na modelagem do mundo dos homens.
O culto a uma deidade feminina, na história da humanidade, sempre esteve associada a uma imagem sagrada centrada na fertilidade humana ou agrícola, como também aos ciclos naturais da vida, que remonta a tradições espirituais pré-históricas e que ainda se pratica no mundo inteiro de forma inconsciente. As imagens de deusas, desde a Idade da Pedra, simbolizam a “fecundidade, a nutrição, a generosidade, a comunidade e a própria terra” diziam seus adoradores. Nas tradições dos nativos norte-americanos e de muitas religiões africanas, as deusas femininas controlavam os ciclos de plantação, crescimento e colheita, nascimentos, pró-criação e morte. No império greco-romano, as deusas tinham características masculinas, próprio de civilizações dedicadas à conquista, como Atena e Minerva, guerreiras da sabedoria, ou Artemis e Diana, padroeiras da caça.
Podemos observar que nesse percurso da construção da vida econômica dos povos, baseados na produção de subsistência agrícola, as figuras principais em tal formatação cultural estava centrada no culto às mulheres. A Grande Mãe (Magna Mater) romana era descendente direta da deusa da fertilidade Cibele, que, na tradição semítica era conhecida indistintamente como Astartéia ou Ester. A protetora do hinduísmo (Devi) que é deusa venerada através de variados cultos, entre elas Parvati, Durga e Kali, de inúmeros braços, representavam a suavidade maternal com aspectos de ferocidade guerreira em seu papel de protetora.
Na dimensão do sobrenatural das civilizações, o feminino impregnava o universo social da antiguidade, tanto, que o culto Católico Romano à Virgem Maria provém dessas tradições. Torna-se evidente que tal imagem religiosa, no mundo contemporâneo, tornou-se uma mera figura coajudante do deus macho. Qual foi o resultado de tal processo?
As sociedades de origem matriarcal, demonstradas pelo próprio culto às deusas, tão antigo como a própria humanidade, postulavam uma Mãe Terra, criadora primordial do universo. Quando a sociedade patriarcal destituiu as mulheres do seu poder criador, a Deusa Primordial perdeu seu papel centrado nos ciclos agrícolas e de fecundidade, e foi substituída por um deus masculino poderoso, fazedor de tudo que existe na terra, distante e impenetrável, configurado no centralismo racional do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. Do ponto de vista científico, tais configurações estão relacionadas aos aspectos espirituais da sociedade, encampadas na essência das crenças religiosas. Entretanto, ainda assim, existe uma dívida monumental para com as mulheres, que é restituí-las de sua condição histórica na modelagem do mundo dos homens.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
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