quinta-feira, 2 de abril de 2009

MODELADOS PELA SOCIEDADE

Genial a crônica “Carta a um amigo conservador” do Charles Zimmermann. Ela trata de uma pessoa modelada socialmente, carente da intranqüilidade que o conhecimento dialético proporciona. Vou esboçar com a permissão do meu amigo Charles, meu ponto de vista sociológico. Toda sociedade pode ser encarada em termos da cosmovisão que atua como universo comum habitado por seus membros. O indivíduo, portanto, adquire socialmente sua cosmovisão da mesma forma como adquire seus papéis e sua identidade. Como isso acontece?
Tanto suas ações, suas emoções e suas interpretações sociais, são pré-definidas para ele pela sociedade, da mesma forma que sua visão consensual em relação ao universo que o rodeia.
Tal conceito pode ser sintetizado na frase “mundo aceito sem discussão”, ou seja, um sistema de pressupostos com que cada sociedade se modela no curso da sua história. Nesse caso, a sociedade pré-define para nós tal mecanismo cultural e simbólico, com o qual apreendemos o mundo, ordenamos nossa experiência e interpretamos nossa própria existência.
Da mesma maneira, a sociedade fornece nossos valores, nossa lógica e o conjunto de informações (ou desinformações) que constitui nosso “conhecimento”. São poucos os indivíduos, muito bem explicado de forma tragicômica por Charles, que tem a capacidade de reavaliar aquilo que lhes foi imposto. Na verdade, não sentem nenhuma necessidade de reavaliação porque a cosmovisão em que foram socializados lhes parece óbvia. E tal atitude é resultado da influência dos próprios membros da sociedade da qual faz parte, que validam tal cosmovisão conservadora.
O estudo dos grupos de referência mostra-nos que são eles para os quais uma pessoa orienta suas ações. Nesse sentido, o grupo proporciona um modelo que oferece um determinado ponto de vista sobre a realidade social, que pode ser ideológico ou não. O conceito de “esquerda” e “direita” hoje revivida por causa da crise econômica, está relacionado a esses aspectos. Em outras palavras, um indivíduo se liga a um grupo de modo a “saber” que o mundo é isso ou aquilo. De repente, tal indivíduo troca tal grupo porque passa a “saber” que devia estar enganado. O amigo conservador de Charles é o típico indivíduo padrão, politicamente correto, cidadão irreprochável, trabalhador fiel. Tal formatação dessa identidade social é resultado da “internalização” do processo de socialização. A sociedade controla nossos movimentos, dá forma a nossa identidade, nosso pensamento e nossas emoções. A sociedade construída culturalmente, toma conta da nossa consciência, do nosso papel social, e modela a armadilha que nos torna reféns da nossa própria natureza social, ou, como diria um sociólogo americano “As paredes do nosso cárcere já existiam antes de entramos em cena”

Victor Alberto Danich - Sociólogo

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