terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PARABÉNS URUGUAI

Na madrugada desta segunda-feira, José Mujica foi eleito presidente do Uruguai com 53,2% dos votos. No meio da chuva e vento, o ex-guerrilheiro Tupamaro discursou acompanhado do seu vice-presidente eleito, Daniel Astori, perante uma multidão de cidadãos que carregavam os estandartes da coalizão de esquerda Frente Ampla. No seu discurso, Mujica agradeceu ao presidente do atual governo, Tabaré Vázquez, do qual foi ministro de Agropecuária, com palavras emocionadas: “Obrigado Tabaré, porque ganhamos pela honra deste governo”. O que o presidente eleito quis dizer com isto?
Simplesmente lembrou que seu triunfo deveu-se a política econômica adotada pela Frente Ampla, durante a gestão de Vázquez. Seu governo fortaleceu uma ativa política laboral, a qual incluiu a extensão das negociações coletivas, fazendo com que a desocupação se reduzisse de 11,4% a 9,7% entre 2006 e 2007, aumentando ao mesmo tempo o salário real em 12%. Além disso, se realizou uma profunda reforma impositiva, que foi destinada a unificar os tributos e a renda empresarial, assim como a criação de um imposto de renda para as pessoas físicas, inexistente até então no Uruguai. Enquanto o modelo neoliberal praticava sua política do desastre, Tabaré Vásquez se movimentava com imensa cautela. Evitou definições concretas em temas sensíveis, como a renegociação da dívida externa ou o confronto direto com seus adversários políticos. Pediu a seu então ministro José Mujica, o carismático líder do setor da Frente Ampla, liderada pelos ex-guerrilheiros Tupamaros, que cuidasse o tom de suas declarações, assim como nomeou o moderado Danilo Astori, como seu ministro de economia, de modo a apaziguar a direita intransigente. Com uma mensagem serena e um discurso pragmático sem promessas eleitoreiras, construiu uma base sólida para seu governo. Tal legado político fez com que a Frente Ampla mantivesse seu projeto econômico através da eleição do novo presidente. Qual é a lição que nos mostra esta nova realidade latino-americana? Que durante os anos noventa, a ideia neoliberal de despolitizar a condução econômica – ilusão tecnocrática de afastá-la dos seres humanos – supostamente deveria gerar modelos sãos e equilibrados, levando ao planeta a uma prosperidade sem fronteiras. O resultado foi espantosamente decepcionante. Tanto é, que o giro anti-neoliberal não é apenas uma tendência latino-americana, senão que a mudança de consciência se entende no mundo todo. Nesse contexto, a nova esquerda do sul do continente ressurge como alternativa válida para substituir o sonho neoliberal. Pós-revolucionária, flexível, pragmática, democrática, sem preconceitos e sem o fundamentalismo do passado, a nova esquerda continua sendo esquerda. Porém, a novidade mais importante é que a mesma converteu-se, inesperadamente, na grande protagonista deste início de século.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

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