As políticas neoliberais são resultado de um processo criminoso levado ao extremo por grupos e corporações globais, que, na sua voracidade ilimitada por lucros, terminou desencadeando a crise atual, não apenas econômica, senão também política e cultural. O conceito de modernidade envolve todas essas questões, principalmente para os intelectuais contemporâneos, que devem enfrentar o desafio de entender o atual processo civilizatório. O neoliberalismo afirmava que “os estados-nações converteram-se em unidades de operações artificiais, inviáveis numa economia global”, e, ao mesmo tempo, num ufanismo quase religioso, modelava uma sociedade pós-capitalista sem identidades nacionais, em função da obsolescência do Estado, de modo a vislumbrar um novo mundo utilitarista sem crenças coletivas baseado na economia de mercado. No entanto, tal visão terminou se transformando numa armadilha mortal. A civilização entrou no terceiro milênio descobrindo que o processo neoliberal tanto alardeado, que criminalizava o Estado e tentava impor as forças irresistíveis do mercado sobre a soberania política das nações, foi orquestrado por um processo de corrupção sem limites – estreito noivado entre os delinqüentes públicos e a globalização – que causaram uma violenta concentração de renda por parte de grupos privados não muito longe das organizações criminosas.
Quando falamos de corrupção, devemos entendê-la não como um ato isolado, e sim como um fato social predominante num determinado contexto socioeconômico. O corrupto não é apenas fruto de pequenas infidelidades. Ele é resultado, como diz Frei Beto: “de detalhes que se lhe acumulam na alma, como levar vantagem num negócio ou trair a confiança alheia. Não é o dinheiro que destrói sua moral. É a ganância, a arrogância, a convicção que é mais esperto que os demais”. Tal doença não é exclusiva do setor público, ela contamina o universo do setor privado e das instituições não governamentais. Por que então colocamos nossos olhos na coisa pública? Os meios de informação nos bombardeiam com banalidades e lugares comuns que nos sugerem que a corrupção na administração pública prospera porque as conseqüências de ser descoberto e punido são leves em relação às vantagens. No entanto, ninguém se interroga sobre a correlação entre níveis de corrupção e grau de superioridade dos salários privados em relação aos públicos, assim como favoritismo político, imprevisibilidade do sistema judiciário e outras coisas do gênero. Cabe perguntar-se se existe alguma relação conceitual entre um miserável que se corrompe por um pedaço de frango - por questões de sobrevivência - com aquele que faz parte do topo da pirâmide social, que conscientemente usa os mecanismos da corrupção para se enriquecer a custa da miséria dos outros. Como podemos explicar isso às crianças e aos acadêmicos nas universidades? Há possibilidade de ampliar a consciência cidadã a partir da constatação de que a economia caiu nas mãos de grandes grupos privados (globais ou locais) que se apropriaram de altíssimas taxas reais de benefícios como parte do processo de depredação geral dos tecidos produtivos, quitando ao Estado, nesse intervalo, sua capacidade de resposta social? Falar de corrupção apenas em termos morais e éticos não basta. Ela excede a simplificação do fenômeno. Porque o flagelo da corrupção não apenas atinge o comportamento político-econômico da sociedade, senão que se afunda na essência da decomposição cultural desta, que inclui o declínio de crenças coletivas igualitárias e solidárias, substituídas por diversas formas de amoralidade e egoísmo dissociador. Cultuar o “triunfador” em paralelo ao desprezo pelo “perdedor” é o que resta de uma trama complexa de um modelo que pauta seu sucesso na liquidação das normas e na invasão criminosa do tecido social. Que armas o expectador impotente pode usar contra uma força descomunal que ultrapassa seus sentimentos de justiça, principalmente quando a ilegalidade se transforma no terreno natural dos negócios?
Quando falamos de corrupção, devemos entendê-la não como um ato isolado, e sim como um fato social predominante num determinado contexto socioeconômico. O corrupto não é apenas fruto de pequenas infidelidades. Ele é resultado, como diz Frei Beto: “de detalhes que se lhe acumulam na alma, como levar vantagem num negócio ou trair a confiança alheia. Não é o dinheiro que destrói sua moral. É a ganância, a arrogância, a convicção que é mais esperto que os demais”. Tal doença não é exclusiva do setor público, ela contamina o universo do setor privado e das instituições não governamentais. Por que então colocamos nossos olhos na coisa pública? Os meios de informação nos bombardeiam com banalidades e lugares comuns que nos sugerem que a corrupção na administração pública prospera porque as conseqüências de ser descoberto e punido são leves em relação às vantagens. No entanto, ninguém se interroga sobre a correlação entre níveis de corrupção e grau de superioridade dos salários privados em relação aos públicos, assim como favoritismo político, imprevisibilidade do sistema judiciário e outras coisas do gênero. Cabe perguntar-se se existe alguma relação conceitual entre um miserável que se corrompe por um pedaço de frango - por questões de sobrevivência - com aquele que faz parte do topo da pirâmide social, que conscientemente usa os mecanismos da corrupção para se enriquecer a custa da miséria dos outros. Como podemos explicar isso às crianças e aos acadêmicos nas universidades? Há possibilidade de ampliar a consciência cidadã a partir da constatação de que a economia caiu nas mãos de grandes grupos privados (globais ou locais) que se apropriaram de altíssimas taxas reais de benefícios como parte do processo de depredação geral dos tecidos produtivos, quitando ao Estado, nesse intervalo, sua capacidade de resposta social? Falar de corrupção apenas em termos morais e éticos não basta. Ela excede a simplificação do fenômeno. Porque o flagelo da corrupção não apenas atinge o comportamento político-econômico da sociedade, senão que se afunda na essência da decomposição cultural desta, que inclui o declínio de crenças coletivas igualitárias e solidárias, substituídas por diversas formas de amoralidade e egoísmo dissociador. Cultuar o “triunfador” em paralelo ao desprezo pelo “perdedor” é o que resta de uma trama complexa de um modelo que pauta seu sucesso na liquidação das normas e na invasão criminosa do tecido social. Que armas o expectador impotente pode usar contra uma força descomunal que ultrapassa seus sentimentos de justiça, principalmente quando a ilegalidade se transforma no terreno natural dos negócios?
Victor Alberto Danich
Sociólogo