Se fizermos uma viagem histórica aos confins remotos da antiguidade, vamos esbarrar com um fenômeno que se repete dramaticamente ao longo do tempo: as crises alimentares. O período de progresso e grandiosidade entre os séculos XI e XII cessou repentinamente pelo retorno do flagelo da fome. Ela reaparece no começo do século XIV, fazendo com que a população europeia diminuísse de forma alarmante durante a vigência de essa restrição alimentar. Parece impossível, mas apenas no início do século XIX é que a população volta a crescer na Europa, chamando a atenção dos economistas interessados em entender a periodicidade de tal fenômeno. Qual seria a relação existente entre a fome e a economia, que conjugasse os efeitos de ambas na redução da população?
Durante muito tempo, a economia política clássica que surgiu no fim do século XVIII, na qual Adam Smith e David Ricardo são seus principais representantes, teve como centro a questão de descobrir se é “a terra ou o homem a verdadeira fonte das riquezas”. No entanto, foi um pastor anglicano, Thomas Malthus, que introduziria uma nova interpretação econômica da história humana. A lei de Malthus argumentava de que quaisquer sejam os progressos da civilização, os rendimentos dos habitantes de uma nação não deveriam aumentar. Tais rendimentos fariam com que houvesse um aumento exponencial da população, que levaria a interromper essas melhorias por falta de terras disponíveis. A teoria da renda, para este economista religioso, não é resultado da terra como única fonte de riquezas, legado de uma infinita providência divina, e sim de um Deus que mede a renda pela avareza e não por uma suposta generosidade. Nada melhor do que esta argumentação para justificar a relação íntima entre a renda e a riqueza aristocrática. Os nobres teriam, por direito divino, de apropriar-se das melhores terras, e assim manter de forma harmônica o crescimento demográfico. O que significava isto? Que um bom governo sempre terminava prejudicando o bem-estar público, já que tudo aquilo que se configurava como uma conquista – estabilidade, paz e higiene pública – terminava-se transformando numa calamidade, favorecendo o crescimento da população e, portanto, o surgimento da miséria e da fome. Realmente, uma visão bastante extravagante da história.
Nesse caso, as guerras, o descaso, a má vida e suas conseqüências funestas, levariam ao mundo a uma situação posterior mais confortável, fazendo com que os sobreviventes tivessem uma vida melhor. Os ricos e poderosos, demograficamente escassos, seriam os beneficiários diretos dessa situação. A morte dos pobres garantiria a sobrevivência do soberano e seus cortesãos. A justiça divina cumprira dessa forma seus desígnios históricos, e a nobreza garantiria sua perpetuação. Como isso funcionava na prática?
Na época em que vigorava a lei de Malthus, a existência de uma alta mortalidade por causa da fome e da falta de higiene era considerada um beneficio, já que permitia a sobra de alimentos para abastecer aos donos da renda e da terra. Por outro lado, a falta de higiene não chegava a molestar ao conjunto da sociedade. Isso era visto como um recurso de estabilidade demográfica. A fragrância dos perfumes não eliminava o cheiro espantoso das latrinas próximas aos aposentos do palácio de Versalhes. Na era Shakespeariana, os teatros ingleses careciam de sanitários, fazendo com que o público presente fizesse suas necessidades no jardim, ou no próprio teatro, no meio das cortinas, escadas e corredores. Esta pequena mostra da realidade que se confronta com o glamour e esplendor mostrado pelo cinema Hollywoodiano, deixa-nos um recado sinistro. O liberalismo econômico malthusiano, fonte inequívoca da ciência econômica atual, nos indica que as desigualdades são a forma mais eficiente para evitar a fome e a miséria humana. Só falta surgir aquele, mais uma vez, que esteja disposto a assumir a responsabilidade de dizer que tudo isso é uma coisa boa e inevitável, iniciando um novo holocausto sem remorsos.
Durante muito tempo, a economia política clássica que surgiu no fim do século XVIII, na qual Adam Smith e David Ricardo são seus principais representantes, teve como centro a questão de descobrir se é “a terra ou o homem a verdadeira fonte das riquezas”. No entanto, foi um pastor anglicano, Thomas Malthus, que introduziria uma nova interpretação econômica da história humana. A lei de Malthus argumentava de que quaisquer sejam os progressos da civilização, os rendimentos dos habitantes de uma nação não deveriam aumentar. Tais rendimentos fariam com que houvesse um aumento exponencial da população, que levaria a interromper essas melhorias por falta de terras disponíveis. A teoria da renda, para este economista religioso, não é resultado da terra como única fonte de riquezas, legado de uma infinita providência divina, e sim de um Deus que mede a renda pela avareza e não por uma suposta generosidade. Nada melhor do que esta argumentação para justificar a relação íntima entre a renda e a riqueza aristocrática. Os nobres teriam, por direito divino, de apropriar-se das melhores terras, e assim manter de forma harmônica o crescimento demográfico. O que significava isto? Que um bom governo sempre terminava prejudicando o bem-estar público, já que tudo aquilo que se configurava como uma conquista – estabilidade, paz e higiene pública – terminava-se transformando numa calamidade, favorecendo o crescimento da população e, portanto, o surgimento da miséria e da fome. Realmente, uma visão bastante extravagante da história.
Nesse caso, as guerras, o descaso, a má vida e suas conseqüências funestas, levariam ao mundo a uma situação posterior mais confortável, fazendo com que os sobreviventes tivessem uma vida melhor. Os ricos e poderosos, demograficamente escassos, seriam os beneficiários diretos dessa situação. A morte dos pobres garantiria a sobrevivência do soberano e seus cortesãos. A justiça divina cumprira dessa forma seus desígnios históricos, e a nobreza garantiria sua perpetuação. Como isso funcionava na prática?
Na época em que vigorava a lei de Malthus, a existência de uma alta mortalidade por causa da fome e da falta de higiene era considerada um beneficio, já que permitia a sobra de alimentos para abastecer aos donos da renda e da terra. Por outro lado, a falta de higiene não chegava a molestar ao conjunto da sociedade. Isso era visto como um recurso de estabilidade demográfica. A fragrância dos perfumes não eliminava o cheiro espantoso das latrinas próximas aos aposentos do palácio de Versalhes. Na era Shakespeariana, os teatros ingleses careciam de sanitários, fazendo com que o público presente fizesse suas necessidades no jardim, ou no próprio teatro, no meio das cortinas, escadas e corredores. Esta pequena mostra da realidade que se confronta com o glamour e esplendor mostrado pelo cinema Hollywoodiano, deixa-nos um recado sinistro. O liberalismo econômico malthusiano, fonte inequívoca da ciência econômica atual, nos indica que as desigualdades são a forma mais eficiente para evitar a fome e a miséria humana. Só falta surgir aquele, mais uma vez, que esteja disposto a assumir a responsabilidade de dizer que tudo isso é uma coisa boa e inevitável, iniciando um novo holocausto sem remorsos.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
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