quinta-feira, 12 de maio de 2011

PLAYA GIRÓN

Perante as guerras focalizadas que ocorrem no Oriente Médio, resulta interessante fazer um histórico das razões ocultas que existem por trás de tais acontecimentos. Os protagonistas diretos das lutas contra o colonialismo conhecem profundamente a saga dos imperialismos na sua avidez por conquistar o mundo. São as gerações atuais que precisam estar atentas à redescoberta das novas estratégias neocoloniais mascaradas com feições humanitárias. Essa é a razão pela qual quero resgatar a história a seguir.
No começo da manhã de 17 de abril de 1961, teve início à invasão da Baía dos Porcos (Playa Girón), quando um grupo de mercenários, refugiados cubanos treinados em bases da CIA e financiados por Washington, desembarca em Cuba para tentar derrocar o governo de Fidel Castro. Nas vésperas do ataque, dois aviões B-26 mascarados com as cores de Cuba, que voaram diretamente da Nicarágua para bombardear o aeroporto cubano, evidenciaram a cumplicidade da CIA na operação paramilitar. Enquanto isso, o chefe da missão norte-americana nas Nações Unidas, Adlai Stevenson, jurava que os pilotos eram desertores da força aérea cubana que estavam lutando do lado dos invasores. Tal afirmação terminou revestindo-se de extremo ridículo, que aprofundou ainda mais o sentimento hostil aos Estados Unidos na Assembléia da ONU. A constatação da existência de forças mercenárias contra Cuba aconteceu quando foi abatido um avião militar norteamericano, que bombardeava a população civil e forças milicianas na região de Central Austrália. O cadáver do piloto Leo Francis Baker, com toda a documentação e plano de vôo, transformou-se na prova definitiva.
A eficiência das forças militares cubanas terminou abortando os ataques aéreos mercenários. De fato, dos onze B-26 que saíram de Porto Cabezas, na Nicarágua, nove foram abatidos. Desse total, seis pilotos norteamericanos, contratados da Guarda Nacional de Alabama, além de cinco pilotos cubanos contra-revolucionários, morreram na invasão da Baía dos Porcos.
A totalidade da força mercenária adestrada pela CIA, teve poucas chances de resistir ao heroísmo dos milicianos de Cuba. Dos 1.400 cubanos anticastristas, que faziam parte das forças invasoras, 100 morreram, cinco conseguiram escapar asilando-se na Embaixada do Brasil, e outros 14 foram resgatados por navios norteamericanos. Entretanto, o total de combatentes treinados pela CIA e mobilizados para a invasão chegava a 2.400, dos quais 1.200 não conseguiram nem sequer desembarcar, retornando às suas bases perante o intenso bombardeio das baterias antiaéreas das milícias postadas na praia.
Conforme o Conselho Revolucionário Cubano, de acordo com o relato do historiador brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, e publicado de forma a traçar o perfil dos invasores mercenários, o mesmo mostrou que estes recebiam um pagamento de US$ 175 por mês, além de um adicional de US$ 25 por filho. Entre eles havia 100 latifundiários, 24 grandes proprietários, 67 donos de casas e apartamentos, 112 comerciantes, 35 magnatas industriais, 195 ex-militares de alta patente do governo de Batista e alguns outros sem perfil definido, Todos tentavam lutar para recuperar 914.859 acres de terras, 9.666 casas, 70 fábricas, 5 Minas, 2 Bancos e 10 Engenhos de açúcar. Tais dados demonstram o caráter de classe da composição dos “expedicionários”, francamente em confronto com a situação da imensa maioria do povo cubano, trabalhadores pobres das cidades e “guajiros” do campo. As amplas reformas iniciadas para atender os apelos dos setores mais pobres da sociedade, em apenas dois anos de governo, deram ao governo de Castro o apoio necessário para a luta contrarevolucionária financiada pela CIA. Dos 1.189 invasores restantes, em conjunto com o alto comando da Brigada Expedicionária 2506, se renderam em massa às tropas de Fidel Castro. O comandante Che Guevara, nessa oportunidade, arrematou com seu famoso sarcasmo, que aquele fora “o único exército do mundo que se rendera sem experimentar qualquer baixa”.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário