Imagino que a maioria das pessoas sabe que a atividade econômica da sociedade está configurada num modelo de produção capitalista. Uma de suas características principais, além de seu objetivo intrínseco assentado na maximização dos lucros, é a existência de diferentes classes sociais, que podem ser identificadas por sua capacidade de poder econômico, político, ou profissional. Por se tratar de um modo produtivo com feições democráticas, pode ser observada nele uma forte tendência à mobilidade social, bastante visível no Brasil nestes últimos anos. Perante tal fenômeno, a sociologia estuda esse mecanismo a partir de uma perspectiva funcional, que identifica certos comportamentos em função da obtenção de um sucesso vinculado a metas futuras. Pelo fato de que tais circunstâncias não estão totalmente sob controle, pela sua própria imprevisibilidade, termina-se implantando no modelo citado um processo neurótico de ansiedade na convivência social.
Nesse contexto, o julgamento que os indivíduos fazem de si próprios em termos de êxitos e fracassos anteriores, cria uma constante incerteza no que pode acontecer mais à frente. Quando a ansiedade corresponde a parâmetros de comportamentos normais, a mesma pode ser integrada na conduta e na personalidade do indivíduo. Mas, quando o fato ambicionado, em função de seu êxito ou fracasso, aparece carregado de incerteza e insegurança, em que a intensidade da frustração é desproporcional com relação aquele significante, surge o fenômeno da corrida desenfreada por status, muitas vezes, a qualquer custo. Normalmente, o temor e a ansiedade estão presentes nos casos de perturbações e conflitos, mas, a ansiedade unida à conquista por status, é expressa através de compulsões infundadas. Em tais casos, a explicação não reside num problema psíquico, senão nos problemas motivacionais comuns das sociedades de classes.
A ansiedade psíquica está vinculada a um temor sem fundamentos, uma idéia fixa ou um ato involuntário que se repete incessantemente. A corrida por status entranha um conflito simbólico, que é a busca de uma meta que está sempre distante e evadida do sujeito. O objeto manifesto não faz mais do que representá-la. Serve como defesa simbólica contra a insegurança de não obter o êxito esperado. A corrida por status sempre é acompanhada de uma fuga para alguma coisa: uma meta ou várias metas a serem alcançadas. O objeto específico não é admitido conscientemente, porque foi reprimido. O propósito comum em todos os casos é evitar a ansiedade provocada pelo possível fracasso. O fracassado numa sociedade de status transforma-se num excluído social. Por esta causa, os indivíduos que convivem neste tipo de sociedade sempre estão presos aos eternos condicionantes de êxitos e fracassos.
Entretanto, como os fracassos e os êxitos nunca são definitivos, os indivíduos convivem com a incerteza e instabilidade que rege o caráter social das comunidades de status. A ansiedade que leva à procura incessante de status é permissível numa sociedade desse tipo, oferecendo certo alívio à ansiedade criada por esse contexto. Enquanto o indivíduo corre atrás do status, não se confronta com sua ansiedade, porque o temor está dentro dele. A ansiedade não pode ser superada pelas fugas na direção das metas, porém pode ser “acalmado”. Desse modo, para que o peso da insegurança não se descarregue encima dele, o indivíduo tem que estar sempre correndo naquela direção, sem fim determinado. Com esta prática ou conduta social, logra diminuir a ansiedade e mantê-la longe da consciência. Os poderosos impulsos que existem por trás da compulsão ou obsessão estão determinados em última instância por uma aguda ansiedade social. A necessidade de sempre estar à procura de status cada vez mais elevado converte-se num meio de fuga de aquilo que se quer realmente evitar: o fracasso. Essa fuga tem uma conotação inconsciente, muito longe de ser percebida pelos atores dessa “comedia humana” de representação de papéis, tão presos ao status ambicionado, e tão distante de um projeto coletivo de ascensão social.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
Nesse contexto, o julgamento que os indivíduos fazem de si próprios em termos de êxitos e fracassos anteriores, cria uma constante incerteza no que pode acontecer mais à frente. Quando a ansiedade corresponde a parâmetros de comportamentos normais, a mesma pode ser integrada na conduta e na personalidade do indivíduo. Mas, quando o fato ambicionado, em função de seu êxito ou fracasso, aparece carregado de incerteza e insegurança, em que a intensidade da frustração é desproporcional com relação aquele significante, surge o fenômeno da corrida desenfreada por status, muitas vezes, a qualquer custo. Normalmente, o temor e a ansiedade estão presentes nos casos de perturbações e conflitos, mas, a ansiedade unida à conquista por status, é expressa através de compulsões infundadas. Em tais casos, a explicação não reside num problema psíquico, senão nos problemas motivacionais comuns das sociedades de classes.
A ansiedade psíquica está vinculada a um temor sem fundamentos, uma idéia fixa ou um ato involuntário que se repete incessantemente. A corrida por status entranha um conflito simbólico, que é a busca de uma meta que está sempre distante e evadida do sujeito. O objeto manifesto não faz mais do que representá-la. Serve como defesa simbólica contra a insegurança de não obter o êxito esperado. A corrida por status sempre é acompanhada de uma fuga para alguma coisa: uma meta ou várias metas a serem alcançadas. O objeto específico não é admitido conscientemente, porque foi reprimido. O propósito comum em todos os casos é evitar a ansiedade provocada pelo possível fracasso. O fracassado numa sociedade de status transforma-se num excluído social. Por esta causa, os indivíduos que convivem neste tipo de sociedade sempre estão presos aos eternos condicionantes de êxitos e fracassos.
Entretanto, como os fracassos e os êxitos nunca são definitivos, os indivíduos convivem com a incerteza e instabilidade que rege o caráter social das comunidades de status. A ansiedade que leva à procura incessante de status é permissível numa sociedade desse tipo, oferecendo certo alívio à ansiedade criada por esse contexto. Enquanto o indivíduo corre atrás do status, não se confronta com sua ansiedade, porque o temor está dentro dele. A ansiedade não pode ser superada pelas fugas na direção das metas, porém pode ser “acalmado”. Desse modo, para que o peso da insegurança não se descarregue encima dele, o indivíduo tem que estar sempre correndo naquela direção, sem fim determinado. Com esta prática ou conduta social, logra diminuir a ansiedade e mantê-la longe da consciência. Os poderosos impulsos que existem por trás da compulsão ou obsessão estão determinados em última instância por uma aguda ansiedade social. A necessidade de sempre estar à procura de status cada vez mais elevado converte-se num meio de fuga de aquilo que se quer realmente evitar: o fracasso. Essa fuga tem uma conotação inconsciente, muito longe de ser percebida pelos atores dessa “comedia humana” de representação de papéis, tão presos ao status ambicionado, e tão distante de um projeto coletivo de ascensão social.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
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