terça-feira, 15 de abril de 2008

COMO LER A REVISTA VEJA

Vou começar dizendo que o sociólogo se ocupa em compreender os fenômenos sociais de modo disciplinado. Para configurar minha sugestão, diria que uma pessoa cria compromissos quando se liga a um determinado grupo, e por tanto “sabe” que o mundo é isso ou aquilo. Outra faz parte de um grupo diferente e passa a “saber” que aquela pessoa está enganada. Tal configuração social nos mostra que os indivíduos têm um ângulo de visão particular do mundo, de acordo com os interesses do grupo ao qual pertencem. Os meios de comunicação atendem essa premissa. Eles nos oferecem um panorama da realidade construída socialmente. A psicanálise já demonstrou como a opinião pública afeta a percepção dessa realidade. Não é de espantar, portanto, que as opiniões mediáticas no tocante a questões políticas, religiosas ou éticas, tenham tanto poder sobre as idéias daqueles que carecem da capacidade dialética de contestá-las. A validade de uma publicação está assentada na aceitação do grupo (se for dominante, melhor) seduzido com sua particular visão dos acontecimentos. A dinâmica sócio-psicológica que condiciona este processo é magistralmente manipulada pela revista Veja. Tal publicação se comporta com se estivesse acima das verdades dos fatos, mascarando argumentos reacionários e agressivos, através de denúncias oportunistas e produção de factóides. Façamos uma pequena radiografia visual do conteúdo desse “pasquim de posto de gasolina”. As páginas coloridas são singularmente atrativas, como prateleira de farmácia. Num total de 134 páginas em cores convidativas, 66 são de propaganda para nossas classes mais privilegiadas. No meio de fofocas de artistas, banqueiros, madames “chiques”, mulheres em biquíni e crônica de mauricinho intelectualizado, encontramos dicas para gordos, doentes, cegos, ginastas, depressivos, velhos e outras tantas maravilhas do cosmos. O terrorismo jornalístico se insinua de forma subliminar, exposto na suas manifestações mais ridículas, de modo a deixar assustados os leitores de classe média. Um exemplo? O presidente Lula é mostrado em primeiro plano com suaves contornos de fundo, de Fidel e Chávez. A ameaça provinciana é o terceiro mandato. Isso deixa muita gente angustiada. Tanto, que são capazes de pular a foto da gostosa Ivete Sangalo na respectiva sessão “trivialidades de banheiro”.

2 comentários:

  1. Num sistema pluralista - e o nosso ainda é, apesar da intenção dos nossos 'pogrecistas' de implantar 'marcos regulatórios'- a moeda corrente é a credibilidade. Se considerarmos o universo dos que leem uma revista uma vez por semana, a credibilidade da Veja é 13 (treze) vezes maior que a da Carta Capital. Isso não lhe diz algo? Por que será que TODOS os grandes jornais comunistas do Ocidente desapareceram?

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