segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NOS BAILES DA JUVENTUDE

Muitos devem pensar, quando escrevo crônicas políticas, que passei toda minha vida sendo um carrasco intelectual encerrado num quarto em penumbras, inventando teorias da conspiração. Nada disso, quando jovem me divertia loucamente. Por outro lado, falar da gente em primeira pessoa é muito mais fácil e mais ameno. Por isso vou fazer um parêntesis ideológico e contar uma pequena história do final dos conturbados anos 60. Éramos uns dez rapazes alegres que se preparavam para ir nos bailes da periferia a conquistar corações. Montávamos um velho Ford 1938, que chegava rugindo com seu motor V8, fazendo estardalhaço na entrada das pequenas cidades no meio dos pampas argentinos. Os salões eram imensos, repletos de cadeiras e mesas ao logo da pista de dança. As músicas de Roberto Carlos se misturavam ao som estridente dos Beatles e cumbias colombianas. As moças exaltadas eram vigiadas de perto pelas mães ciumentas, que auscultavam os candidatos à dança com olhares desconfiados. A expectativa que causava a chegada dos marmanjos da cidade grande era inusitada. As donas de casa desesperadas não conseguiam segurar às filhas na sua libido pouco dissimulada. A adrenalina do gostoso corria solta. Eram os tempos em que à juventude começava a cortar as amarras da repressão sexual. A gente sabia aproveitar muito bem o jogo amoroso, assumindo a pose daqueles que chegam para arrasar as desprevenidas donzelas. É claro que não era tão fácil. Formando um fechado grupo de ataque, a turma se posicionava frente às mesas para convidar as moças a dançar. O primeiro passo era tentar superar, com cara de inocente, as instransponíveis muralhas montadas pelas mamães. A premiação para tal esforço sobre-humano era o sorriso de aceitação e a liberação para bailar da graciosa menina. A partir daí, metade do combate estava ganho. A segunda etapa era ficar longe dos olhares maternos para aproveitar uma apertadinha, quem sabe um beijinho fugaz. Devolver a filha para a mesa era o passaporte para a próxima rodada. Não era mole não. A gente tinha que suar mesmo.
Às vezes, tudo dava errado. Nas pequenas cidades ultra-conservadoras, nossa presença estava vedada. A comissão de mães “guardiãs da virgindade” faziam de tudo para que suas filhas não olhassem para a gente. O delírio chegava ao ponto de colocar os “nativos locais” para dar porrada no grupo, se fosse necessário. Estrategicamente, descartávamos tal localidade da rota amorosa de conquista musical. Nosso triunfo chegava um pouco mais tarde, quando aquelas mulherzinhas “guardadas zelosamente” eram enviadas para estudar na cidade grande. Justíssimo na “boca do lobo”, nosso território exclusivo. Foi assim que a gente foi construindo com elas nossa sexualidade, obstinada, irreverente, musicalmente libidinosa, inesquecível.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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