Andando de carro e conversando com minha filha de coisas triviais, ela, de repente, me sinaliza o carro da frente para observar no pára-brisa traseiro um adesivo com a seguinte frase: “Propriedade de Jesus”. Ambos ficamos atônitos. Como misturar o conceito de propriedade privada com o nome daquele que lutava contra ela? Confesso que não sou muito religioso. Digo muito, porque numa época da minha vida praticava um culto por imposição familiar. Tudo aquilo que a gente sabe: crenças, mitos, dogmas, além de todo tipo de parafernálias sobrenaturais que somos incapazes de questionar cientificamente. Entretanto, como pesquisador na área da sociologia, sempre estive interessado por questões religiosas, principalmente pela influência delas no âmbito da sociedade.
Pelo que conheço da vida de Jesus, ele nasceu numa estrebaria de Belém, na periferia do império romano. Terminou sendo criado numa outra aldeia, na casa de um carpinteiro e, quando adulto, chegou a afirmar que não tinha onde recostar a cabeça. Quando completou trinta anos tornou-se um pregador itinerante, viajando pelo país com seus doze discípulos. Foi, então, falsamente acusado de instigador, por falar de solidariedade e amor ao próximo, que não era exatamente o que as religiões da época exercitavam, já que seus deuses eram vingativos e brutais. Tornou-se tão perigoso que seus amigos o abandonaram. Depois de ser torturado sem piedade, foi crucificado entre dois ladrões, como castigo para aqueles que ousam contradizer os dogmas vigentes. Quando morreu, aos trinta e três anos, foi sepultado em um túmulo emprestado. O predicador Jesus Cristo foi pobre, mas sua pobreza foi algo que ele assumiu voluntariamente, numa expressão concreta de sua identificação com a humanidade. A sociedade de consumo nos condiciona a justificar nossas posses tornando cúmplice aquele que pregava contra as mesmas. Parece uma contradição, mais existem igrejas que anunciam, através da “teologia da prosperidade”, um conforto material ilimitado, como reconhecimento ao poder divino de uma figura que representa exatamente o contrário. Não é necessário omitir que eu não sou nenhum franciscano. Gosto de conforto como qualquer pessoa que trabalha duro para conseguir viver decentemente. Mas dizer que minha conquista material deve-se a Jesus? Por favor, isso é uma ofensa ao nome dele.
Nesse instante, minha filha me interrompe nos meus arroubos filosóficos, e com a vitalidade do senso comum, me faz a seguinte colocação: Pai, talvez o dono do carro se chame Jesus. Puxa vida. Sem querer, minha filha me deu uma ideia esplêndida. Como meu carro é da GM, e a empresa nos Estados Unidos foi comprada pelo governo, vou colocar um adesivo no pára-brisa traseiro que diga: “MARCA ESTATIZADA”.
Victor Alberto Danich – Sociólogo
Pelo que conheço da vida de Jesus, ele nasceu numa estrebaria de Belém, na periferia do império romano. Terminou sendo criado numa outra aldeia, na casa de um carpinteiro e, quando adulto, chegou a afirmar que não tinha onde recostar a cabeça. Quando completou trinta anos tornou-se um pregador itinerante, viajando pelo país com seus doze discípulos. Foi, então, falsamente acusado de instigador, por falar de solidariedade e amor ao próximo, que não era exatamente o que as religiões da época exercitavam, já que seus deuses eram vingativos e brutais. Tornou-se tão perigoso que seus amigos o abandonaram. Depois de ser torturado sem piedade, foi crucificado entre dois ladrões, como castigo para aqueles que ousam contradizer os dogmas vigentes. Quando morreu, aos trinta e três anos, foi sepultado em um túmulo emprestado. O predicador Jesus Cristo foi pobre, mas sua pobreza foi algo que ele assumiu voluntariamente, numa expressão concreta de sua identificação com a humanidade. A sociedade de consumo nos condiciona a justificar nossas posses tornando cúmplice aquele que pregava contra as mesmas. Parece uma contradição, mais existem igrejas que anunciam, através da “teologia da prosperidade”, um conforto material ilimitado, como reconhecimento ao poder divino de uma figura que representa exatamente o contrário. Não é necessário omitir que eu não sou nenhum franciscano. Gosto de conforto como qualquer pessoa que trabalha duro para conseguir viver decentemente. Mas dizer que minha conquista material deve-se a Jesus? Por favor, isso é uma ofensa ao nome dele.
Nesse instante, minha filha me interrompe nos meus arroubos filosóficos, e com a vitalidade do senso comum, me faz a seguinte colocação: Pai, talvez o dono do carro se chame Jesus. Puxa vida. Sem querer, minha filha me deu uma ideia esplêndida. Como meu carro é da GM, e a empresa nos Estados Unidos foi comprada pelo governo, vou colocar um adesivo no pára-brisa traseiro que diga: “MARCA ESTATIZADA”.
Victor Alberto Danich – Sociólogo
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