sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OPERAÇÃO BROTHER SAM

São poucas as pessoas que se interessam em reviver momentos dramáticos da história do Brasil. Isso ocorre porque a falta de conscientização política dos nossos povos é resultado de anos de amnésia intelectual, arma poderosíssima nas mãos das antigas ditaduras militares latino-americanas. Vou relatar um acontecimento pouco conhecido que ocorreu durante o golpe de Estado de 1964. Como muitos sabem, João Goulart tornou-se presidente do Brasil em 7 de setembro de 1961, depois da intempestiva renúncia de Jânio Quadros em agosto do mesmo ano. Goulart tornou-se popular porque sua agenda política contemplava temas como a reforma agrária, habitação popular, analfabetismo e educação universitária. No contexto da guerra fria, tais iniciativas pareciam verter-se na direção de ideais socialistas que, para os setores mais conservadores, resultavam intoleráveis. Dessa forma, a campanha externa de desestabilização do governo foi tão intensa, que se configurou como uma descarada conspiração internacional. O Plano de Contingência 2-61, de codinome “Operação Brother Sam”, compreendia o apoio logístico por parte dos Estados Unidos aos golpistas, ou, se for necessário, o uso da força se houvesse intervenção soviética ou cubana apoiando o governo de Goulart. As acusações exageradas feitas pelo embaixador Lincoln Gordon de que o presidente brasileiro estava sendo apoiado pela esquerda revolucionária radical, precipitou a operação citada, envolvendo o deslocamento de uma força tarefa naval, composta de um porta-aviões, um porta-helicóptero, um posto de comando aerotransportado, seis contratorpedeiros com mísseis teleguiados, além de toneladas de armas, entre elas, um tipo de gás lacrimogêneo para controle de multidões. A histeria era tanta, que também seriam deslocados navios-petroleiros para abastecer o comboio, no caso de algum imprevisto provocado pelas forças legalistas. Resulta inacreditável que nosso país estivesse à beira de tamanha humilhação. Ainda bem que o futuro presidente Castelo Branco, sempre em contato direto com o embaixador Gordon, diz que não precisaria do apoio logístico dos “guerreiros das estrelas”. Desse modo, a “Operação Brother Sam” começou a ser desativada. O fato mais curioso de toda essa história ridícula, foi o telegrama enviado pelo secretário de Estado norteamericano Dean Rusk ao embaixador Gordon no Brasil, que perguntava se os petroleiros, que ainda estavam à disposição dos golpistas, deveriam retornar aos Estados Unidos. Isso se devia, segundo ele, ao fato de que haveria um gasto de U$S 2,3 milhões, caso eles continuassem viajando para o Brasil. Como a operação tinha sido desmontada, tais despesas não poderiam ser assumidas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, sugerindo que o reembolso fosse feito pelo governo brasileiro. O humor que nos caracteriza foi condensado na frase do historiador Carlos Fico: “O Brasil, aparentemente, escapou de pagar para quase ser invadido”.
Victor Alberto Danich - Sociólogo

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