sexta-feira, 27 de agosto de 2010

EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

Torna-se impossível ter uma política educacional coerente em todos os âmbitos da sociedade, incluindo a de Ciência e Tecnologia, se não for realizado um projeto nacional de desenvolvimento em longo prazo, com características ideológicas e objetivos bem definidos, de modo que os resultados da pesquisa científica possam ser benéficos para o país. Vamos ampliar o conceito, como forma de aprofundar o tema, tão importante nesta época de mudanças econômicas e políticas. A definição concreta destes objetivos possibilita a mudança da tecnologia física e social, como também define as prioridades em pesquisa e desenvolvimento. Tal condicionante remete ao próprio papel social dos pesquisadores e universitários, incluindo os novos empreendedores ligados às atividades acadêmicas. Encontramo-nos na encruzilhada da descoberta de que a ciência universal pouco tem de universal, ela está confinada aos limites das nações avançadas. Nosso continente é condenado a padecer a tecnologia dos poderosos, tornando-nos incapazes de criar uma tecnologia nacional que permita sustentar nosso próprio desenvolvimento. Esse transplante de tecnologias, muitas vezes distantes das nossas verdadeiras necessidades, não apenas implica a subordinação cultural, senão que aumenta dramaticamente nossa submissão econômica. A multiplicação de um modernismo importado, ilhado num mar de atraso e ignorância, nunca será capaz de resolver o problema do subdesenvolvimento latino-americano, simplesmente porque este não é uma etapa do desenvolvimento, e sim uma contrapartida do progresso alheio. Recebemos tecnologias modernas como no passado foram recebidos espelhinhos e colares dos conquistadores. Mas tudo isso sempre foi colocado ao serviço dos outros, esses “outros” que nos enganam com os símbolos da prosperidade, tornando-nos incapazes de perceber que estes escondem os símbolos da dependência. Nesse contexto, no qual predomina uma sociedade de classes, em que apenas uma minoria chega ao ensino superior, a universidade torna-se, sem querer, um instrumento de dominação, reproduzindo o sistema e exercendo o controle social sobre a maioria desprivilegiada. Para que isso não aconteça, o ensino deve ser democratizado, implantando inovações, tanto no conteúdo quanto na metodologia de aprendizagem das disciplinas, técnicas, científicas e humanísticas.
Qual é o papel do educador nessa situação? Suas tarefas devem ser a de um agente multiplicador e integrador dos conhecimentos, ensinando como aprender e como transmitir, mas sempre focado na realidade social. Isso vale também para o ensino e desenvolvimento da tecnologia, no sentido de mostrar que suas realizações não dependem unicamente do conhecimento científico. A inovação de produtos e processos pode ser realizada empiricamente, tanto pela observação como pela combinação criativa de outros tipos de conhecimentos. O forte estímulo do poder público por meio de incentivos, seja através das instituições federais ou parceiros locais, trilha o caminho para politizar a ciência e tecnologia, desvinculando-a de sua pretensão de objetividade e neutralidade, reforçando assim a necessidade de estender à população a educação e informação sobre o papel da pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Nessa nova abordagem, a estratégia da educação para o desenvolvimento estará assentada no esforço de identificação e organização de todos os conhecimentos científicos disponíveis. A ativa colaboração entre cientistas e técnicos, por um lado, e cientistas sociais, por outro, torna-se o foco principal para dimensionar o papel das inovações tecnológicas, cujo objetivo fundamental, além do crescimento econômico, deve ser a justiça distributiva e o bem-estar de toda a população. Uma sociedade orientada para esses objetivos, oferecerá ao povo a oportunidade de participar nas decisões que afetam a produção, a distribuição e consumo de bens e serviços, que é resultado, em última instância, do esforço coletivo de toda a sociedade.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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