sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS

O leitor deve imaginar que vou falar de religião, não é? Nada disso, estou usando o título de maneira “alegórica” como forma de interpretar porque a grande maioria do povo brasileiro apóia a política de governo atual. Tirando a roupagem dos termos técnicos, armadilha usada pelos gurus da economia neoliberal para esconder suas frustrações em matéria de previsões, vou mostrar de forma clara como a população em geral foi favorecida por um crescimento sustentável da economia produtiva. Apesar do título, não há nada de sobrenatural nesta constatação. Vamos lembrar alguns fatos históricos sem assumir partidarismos políticos. O Brasil sofreu um forte ataque especulativo no segundo semestre de 2002, que provocou um impacto enorme nas finanças públicas, com uma inflação de 12% ao ano e uma dívida do setor público que beirava em 52% do Produto Interno Bruto (PIB). Para piorar a situação, as reservas internacionais do Brasil eram apenas de US$ 37,8 bilhões, das quais US$ 20,8 bilhões faziam parte de um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em contrapartida, a economia mundial, em franco crescimento, permitiria ao Brasil obter um superávit comercial que ajudaria ao país nos anos posteriores, diminuindo favoravelmente sua vulnerabilidade externa. A visão ideológica que imperava até então, era que o mercado livre de intervenções, favorecia os fatores de produção de acordo com sua produtividade, recebendo por isso uma remuneração adequada. Ou seja, as decisões do mercado eram mais confiáveis e menos danosas que as do governo. Azar quem acreditou nisso.
No entanto, o governo eleito assumiu, no primeiro ano de 2003, uma postura de continuidade do modelo neoliberal herdado, tanto por causa dos compromissos externos como da imagem de credibilidade no combate ao processo inflacionário, aliado até então por uma forte contenção fiscal e cambial do país. Na medida em que a situação de vulnerabilidade diminuía, o governo aprovou uma mini reforma tributária de modo a elevar a arrecadação do Estado, que possibilitou implantar as bases econômicas da visão desenvolvimentista, até então engavetada. Tal postura, que para alguns é resultado de “populismos ineficientes”, refletiu-se, a partir de 2005, na adoção de medidas temporárias de estímulo fiscal e monetário, de modo a acelerar o crescimento para elevar a produtividade da economia. Paralelamente, houve um significativo aumento nas transferências de renda e elevação do salário mínimo, que permitiu o acesso ao consumo social a grande parcela da população mais pobre. Por outro lado, o estímulo ao investimento público e privado em capital fixo, chegou a uma taxa de 19,0% do PIB em 2008, que preparou o terreno para evitar o contágio da crise mundial em andamento. Com a redução da dívida externa, que teve seu ponto de inflexão no pagamento daquela contraída com o FMI, o país conseguiu acumular no final de 2008 um estoque total de reservas no Banco Central de US$ 207 bilhões, como forma de blindagem para qualquer tipo de crise que aparecesse no horizonte econômico internacional.
Se o leitor não gostou de números, vou partir para comentar algumas constatações que eu, como sociólogo, realizo “no campo” com trabalhadores anônimos, muitas vezes invisíveis para aqueles que os observam com olhos de superioridade intelectualizada, desqualificando-os como indivíduos incapazes de contrapartidas econômicas. Esse povo, no qual corre nas suas veias a esperança de continuar tendo uma vida digna com emprego seguro, que lhe permite ter acesso pela primeira vez a bens de consumo tantas vezes negados, e sonhar, ao mesmo tempo, que tudo pode melhorar daqui para frente, é suficiente para confiar “num país de futuro”. A voz do povo dificilmente se engana. Essa maré humana que corre nos bastidores da retaguarda produtiva, sente algo de novo na sua história e no seu esforço compartilhado, que é a participação efetiva no rumo virtuoso do país. Silenciosamente construído, tijolo sobre tijolo.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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