Foi o presidente Obama que deu o sinal verde, desde o Brasil, para atacar a Líbia. Logo continuou seu itinerário por Chile e El Salvador, cumprindo um roteiro inestimável aos interesses norteamericanos, profundamente abalados durante o governo de George H.W. Bush. Assim de simples, entre sorrisos e promessas. A resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizando ataques aéreos contra as forças de Muamar Khadafi foi aprovada com dez votos a favor e cinco abstenções. Tal iniciativa visava a criar uma zona de exclusão aérea de modo a resguardar a vida de civis indefesos. Entretanto, não foi o que realmente aconteceu, já que os ataques se entenderam além dessa limitação, destinada a favorecer os rebeldes armados até os dentes. Não por acaso a abstenção partiu por parte de nações que estão curtidas na luta contra antigos imperialismos, hoje disfarçados de democráticos e defensores dos direitos humanos. Entre eles encontram-se os países do BRIC – Brasil, Rússia, Índia, China, e mais, quem diria, a própria Alemanha. Estes países partem da ideia de que não adianta a condenação com o uso da força nas relações internacionais, e sim através do diálogo. Isso não importa para o império americano. O negócio dele é fazer guerras contra qualquer um, usando como fachada a coalizão da Organização do Atlântico Norte – OTAN, delegando a seus aliados a execução das operações militares com base na resolução do Conselho de Segurança. Uma escapatória elegante para fazer negócios sem correr o risco de reviver o fiasco do Iraque e Afeganistão. Alguns leitores devem imaginar que estou a favor do governo Líbio. Por tanto, torna-se necessário fazer a ressalva. Muamar Khadafi exibe o autoritarismo clássico dos países muçulmanos, resultado de longas disputas tribais pela hegemonia entre famílias ou monarquias. Tanto é assim, que em 2006 os EUA retiraram a Líbia da lista dos países terroristas, facilitando a viabilização de contratos milionários na área energética. O pobre Obama, refém dos republicanos ultraconservadores do Tea Party, é incapaz de confrontar-se com a ideia generalizada de que a guerra faz parte da recuperação política e econômica dos Estados Unidos. Dizer não a isto significa um suicídio político prematuro. Resulta muito melhor dar a ordem para que o ataque lhe garanta uma pós-vida eleitoral. No meio desse teatro operacional, passa inerte a lembrança de um dos maiores crimes cometidos aos direitos humanos no século passado, que ocorreu justamente sob os olhos indiferentes das Nações Unidas, a mesma que hoje autoriza qualquer ataque. O massacre de Ruanda em 1994, país africano sem qualquer importância estratégica para os países ocidentais, viveu um dos maiores genocídios na história do país, no qual morreram perto de um milhão de pessoas. O patético desenlace aconteceu perante a indiferença daqueles que aprovaram a resolução do conselho de Segurança contra a Líbia, que são os Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, cada qual com suas justificativas imperiais delirantes. Para falar do século atual, devemos lembrar o que está acontecendo no Bahrein, ocupado por tropas de Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. Por outro lado, a revolta no Iêmen onde os manifestantes são dispersos a tiros, não recebeu até agora qualquer manifestação por parte da ONU, reduzida apenas a declarações de condenação moral. Por último, voltando a nossa latinoamérica, o presidente Obama perdeu a chance histórica de pedir desculpas em nome do seu país, pela colaboração criminosa deste nos golpes de Estado e assassinatos de milhares de militantes políticos perpetuados na Argentina, Chile e Uruguai durante a década de 70. No entanto, em vez de criar uma zona de exclusão em torno da Escola de Mecânica da Armada na Argentina ou no Estádio Nacional do Chile, de modo a evitar o massacre de tantos inocentes naquela época, o império optou por financiar os furiosos ditadores de plantão, resguardando a divisão do mundo no eterno maniqueísmo econômico dos fortes contra os fracos.
Victor Alberto Danich
Sociólogo
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