quarta-feira, 13 de abril de 2011

O COMUNISMO CHINÊS E A ESCOLA DE CHICAGO

O já falecido Milton Friedman, paizão da Escola de Chicago, sempre repetia com orgulho que as liberdades políticas são secundárias em relação à liberdade de comércio sem restrições. E isto se ajustava perfeitamente ao que o governo chinês estava fazendo no inicio da década de 80. O partido comunista estava disposto a abrir a economia à propriedade privada e ao consumismo, sem necessidade de perder ou renunciar ao controle do Estado. Tal privatização permitia a possibilidade, assim como aconteceu na ex-União Soviética, de que os ativos do Estado passassem para as mãos das autoridades do partido e seus familiares, repartindo-se desse modo os pedaços mais rentáveis do negócio. Tal modelo era uma reedição do experimento realizado por Friedman no Chile de Pinochet: “mercados livres combinados com um controle político autoritário, que institucionalizasse uma repressão com mão de ferro”. Quando aconteceu o protesto na Praça de Tiananmen em 1989, este foi descrito pela imprensa mediática internacional como um confronto entre intelectuais progressistas, que desejavam a implantação das liberdades democráticas de tipo ocidental, e os dirigentes autoritários que queriam resguardar o Estado comunista como mentor das reformas. Entretanto, um dos organizadores dos protestos na praça, Wang Hui, destacado intelectual da “nova esquerda chinesa”, deu uma nova versão ao Massacre da Praça da Paz Celestial. Segundo Hui, os manifestantes, compostos por amplos setores da sociedade chinesa, representavam o descontento popular perante as mudanças econômicas de Den Xiaoping, que tiveram como resultado um desemprego brutal, com a conseqüente redução salarial e escalada de preços. Estas manifestações não estavam focadas na reforma econômica e sim contra sua natureza, de clara orientação neoliberal e antidemocrática. Curiosamente, o ocidente capitalista aplaudia as manifestações como se fosse um triunfo do livre mercado, resultado de uma guerra ideológica entre o comunismo e a democracia. Poucos perceberam que a sangrenta ofensiva contra os manifestantes não era, como muitos acreditam, a defesa do comunismo, e sim a do próprio capitalismo. Para Den Xiaoping, tal iniciativa criava a possibilidade de um livre mercado ilimitado. O terror na praça facilitou o caminho para a transformação econômica sem qualquer tipo de oposição. Os métodos mais severos da lei marcial imposta na China depois das revoltas, permitiu a reconversão do país nos moldes do capitalismo sonhado por Milton Friedman: um depósito da mão de obra mais barata do mundo, e, portanto, o lugar preferido dos setores de produção subcontratados de quase todas as multinacionais do planeta. Poucos países oferecem tantas vantagens lucrativas para os investidores estrangeiros do que a China. Impostos reduzidos, mão de obra abundante, salários baixos e, principalmente, ausência do Estado na sua capacidade de resposta social. Para os investidores de todo o mundo, a china transformou-se no paraíso dos negócios lucrativos. O partido comunista faz sua parte no bolo neoliberal. Não por acaso os 90% dos bilionários chineses são filhos de funcionários do partido comunista. Estes senhores controlam uma riqueza que beira aos 260 bilhões de dólares. A participação da Escola de Chicago nesta configuração corporativista pode ser atribuída ao seu principal mentor, Milton Friedman, que nas repetidas visitas ao país oriental, sempre lembrava que os “mercados privados livres levariam a China a promover tanto a liberdade como a prosperidade”. Expressões dessa natureza, tão longe dos setores excluídos da sociedade, vítimas inocentes dos teóricos da velha afirmação liberal - que os mercados livres e os povos livres formam um projeto conjunto inseparável – leva-nos a acreditar que estamos no final da evolução ideológica da humanidade e da forma definitiva de governo humano. No entanto, os acontecimentos na Praça de Tiananmen revelam-nos a semelhança entre o comunismo autoritário e o capitalismo da Escola de Chicago na implantação de um mercado livre, fundamentalista e sem fronteiras. Pobre de nós, pobres.

Victor Alberto Danich

Sociólogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário