quarta-feira, 27 de julho de 2011

O PODER DA MÍDIA PARTIDÁRIA

Na medida em que a política perde seu conteúdo ideológico, os políticos vão se apropriando desta como plataforma para seus interesses particulares. Tanto é assim, que resulta natural que a prática política se transforme e dependa da exposição mediática para a construção do prestigio eleitoral. Os meios de comunicação de massa, sobretudo a televisão, ocupam um lugar privilegiado para denunciar e produzir uma suposta agenda para o debate na sociedade, escondendo no ritual mediático a comercialização da política, na qual a promessa partidária torna-se a matéria prima da democracia formal.
A política, esvaziada de conteúdo, resume-se a uma luta por cargos e benefícios particulares, onde a disputa dos interesses sociais concretos se dilui num marco institucional corrompido, que sempre coloca fora da discussão os interesses hegemônicos disfarçados pelo discurso progressista. É assim como as posições políticas expressadas pelos respectivos partidos que se submetem ao jogo proposto pela democracia formal, evitam basear-se no confronto de ideias em relação a uma leitura da realidade, muito menos com argumentos que defendam os interesses sociais que representam. Uma das consequências fundamentais do esvaziamento da política é o distanciamento do homem comum desta prática. Sua apatia e indiferença com os processos eleitorais, em que tais democracias condicionadas pelo poder mediático se expressam, terminam provocando o pior que pode acontecer no corpo da sociedade, a separação perigosa entre o sistema político e o coletivo social.
Quando o interesse da população diminui em relação ao mundo da política – aprofundando a desconfiança nos representantes e limitando a filiação aos próprios partidos – os políticos precisam mais do que nunca da influência das forças mediáticas para ganhar e reter o apoio do eleitorado. Uma matéria favorável ou uma aparição na televisão, por exemplo, equivale a uma comunicação gratuita com milhares de indivíduos impactados através da mídia, que tem como resultado um efeito de convencimento maior do que a propaganda paga. Produze-se assim um ciclo realimentado entre a exclusão política e o poder crescente dos grupos mais poderosos da sociedade, que tem na classe política seus principais cúmplices.
A questão democrática sempre foi historicamente um fato central em relação à expressão dos interesses populares. Em outras palavras, as liberdades eleitorais sempre foram, durante décadas, um risco ao continuísmo dos interesses dominantes. Nessa configuração é que devemos encontrar a resposta ao fenômeno das sucessivas ditaduras militares no continente latinoamericano. A contradição entre a democracia formal – que é a outra cara complementar do mercado – e a democracia real, de conteúdo, na qual a política não é alheia ao que sucede ao conjunto do povo, torna-se imprescindível ser entendida politicamente. Estas duas formas distintas de conceber a democracia existem, mas não são idênticas. A formal tem como condicionante o enraizamento da exclusão política. A real, por outro lado, é a que viabiliza a liberdade das maiorias de escolher um governo verdadeiramente popular e democrático.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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