quinta-feira, 10 de junho de 2010

COM COMIDA SE APRENDE A PESCAR

Os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em conjunto com o Ministério da Educação, revelaram que o Bolsa Família tem um impacto sumamente positivo no processo educacional dos beneficiários do programa. Tal constatação é uma prova do uso errado da frase tão divulgada, que, carregada de juízos de valor, faz valer seu conteúdo preconceituoso: “primeiro ensinar a pescar para logo dar de comer”.
O Ministério da Educação, ao verificar os índices de aprovação e abandono escolar dos estudantes da rede pública de ensino, pode constatar que a exigência do Bolsa Família para freqüência às aulas, cumpre um papel importante no processo educativo. Como política pública vigorosa de transferência de renda, direcionada para atender aos setores mais pobres da população, de modo a integrá-los num modelo de educação inclusivo, o programa revelou indicadores alentadores, no qual se destaca a aprovação dos beneficiários no ensino médio como sendo maior do que a média nacional, que corresponde a 81,1% contra 72,6%. Com referência ao ensino fundamental, há uma similaridade estatística, na qual aparecem 80,5% de beneficiários aprovados contra 82,3% da média nacional. Por outro lado, os indicadores de abandono no ensino fundamental, assim como no ensino médio, também mostram um impacto positivo, com a diminuição das taxas de desistência, bem inferiores à média nacional.
Tais dados são resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e pelo Sistema Presença de freqüência escolar do Bolsa Família, mostrando que, enquanto em 2001 existiam 920 mil crianças fora da sala de aula, tal número caiu para menos de 570 mil em 2008. Pode-se observar que nesta configuração existe um condicionante de valor inestimável, que é o acompanhamento nutricional das crianças por parte do programa, ultrapassando aquilo considerado como além da sobrevivência alimentar, que é a melhoria do comportamento, do vestuário e da autoestima dos alunos. Nada melhor do que estar alimentado para começar a sonhar com num futuro possível. Uma criança ou um adulto com fome é incapaz de assimilar qualquer tipo de educação formal.
O relatório anual intitulado “Situação Mundial da Infância” publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mostra claramente os dados apontados anteriormente, que indica que no Brasil, um percentual de alunos de 6 a 15 anos com acompanhamento de freqüência escolar, atingiu uma média de 85,2% no primeiro semestre de 2009, chegando a 89,65% no final de 2009, representando um universo de aproximadamente 14 milhões de alunos sob acompanhamento. A constatação também é detalhada no Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, de 2008, que apontava um crescimento de 60% de matrículas escolares no país, principalmente entre jovens de 10 a 15 anos que se encontravam fora da escola. Devemos imaginar que a sociedade como um todo, gostaria de ter uma população sadia e trabalhadora, que tivesse a oportunidade de construir coletivamente um país economicamente solidário, sem travas para um desenvolvimento sustentável, no qual a educação deveria cumprir um papel fundamental na prevenção da miséria e da exclusão social. Para isso acontecer, devemos reeducar aquelas pessoas que, por desconhecimento ou insensibilidade, sempre estão em contra de qualquer ação distributiva que não coincida com suas visões particulares da realidade econômica, e que, ao fazer uso de conceitos ou frases pré-fabricadas, aproveitam para exaltar as distorções que possam acontecer na aplicação de tais programas. A criminalização de qualquer iniciativa direcionada a atender os setores mais desprotegidos da sociedade, que tanto precisam da capacidade de resposta social por parte dos governantes, é um desatino. Um Estado conivente apenas com as leis do mercado, livre do compromisso com seu povo e seu bem-estar, sempre será incapaz de construir um país justo e democrático, por mais que paute seu sucesso na promessa do capital e da tecnologia.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

2 comentários:

  1. É verdade.È importante a nação ajudar a família a ajudar seus filhos. O importante é pensar que um povo educado é muito melhor que um povo faminto.Pessoas contentes e felizes não terão razão para cometer crimes.Um governo compromissado com o seu povo levanta a auto-estima do país.
    Sempre achei que com fome é mais difícil pescar!

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  2. Prezada Maria Helena
    Muito obrigado pelo seu comentário. A participação do Estado no atendimento à população mais carente é um dever contido na Constituição. Não se trata de mero assistencialismo, senão de políticas de Estado direcionadas a eliminar de vez a exclusão social, de modo a permitir a inserção da população mais pobre a patamares dignos de consumo social. A educação é um complemento a mais para desenvolvimento da cidadania plena.
    Atenciosamente,
    Victor

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