quinta-feira, 10 de junho de 2010

DESIGUALDADE E POBREZA

As pessoas não gostam muito de discutir os problemas da pobreza, principalmente aqueles que se encontram longe dela. Ler qualquer informação que tire o indivíduo de seu espaço de conforto, significa reavaliar a realidade com uma visão até então despercebida. Nesse caso, o cientista social tem a ingrata tarefa de descobri-la e transformá-la numa discussão política. O Brasil, apesar de ser um dos países mais abastados do planeta, situa-se entre as nações mais desiguais do mundo. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2003 a desigualdade de renda medida pelo índice GINI superava apenas países com Serra Leoa, Lesoto, Suazilândia e Namíbia. No entanto, o Banco Mundial indica a economia brasileira entre as dez mais ricas do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) de U$S 1,7 trilhão, bem próximo da Itália em termos de paridade de poder de compra. Isso significa que, com uma população de 192 milhões, o PIB per capita corresponde a U$S 9.000. Tais dados são importantes para comparar com o nível de concentração de renda existente no país, que se revelam nos seguintes números: 2 milhões de pessoas, que correspondem a 1% da população, concentram 13% do total das rendas domiciliares. Tal percentual aproxima-se ao distribuído entre os 50% mais pobres, que equivale a cerca de 80 milhões de brasileiros. Vamos fazer um parêntesis para esclarecimentos. Algumas pessoas sentem-se incomodadas por estes dados reveladores, porque presumem que estão sendo questionadas na aquisição do seu patrimônio particular. Nada disso. O que está sendo colocado em discussão é a existência de um modelo econômico que precisa ser remodelado, no qual cada indivíduo usufrua da riqueza conforme sua capacidade, mas que permita aos menos favorecidos viver dentro de parâmetros sociais dignos. Qual é o fundamento para tal argumentação? Segundo os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 30.3% da população, que corresponde a 54 milhões de pessoas consideradas pobres, há, entre elas, 20 milhões extremadamente pobres, que abarca 11,5 % dessa totalidade. Por outro lado, raiando a omissão, não é possível continuar afirmando que essa parcela da população é a única culpável pela sua pobreza, e sim discutir seriamente se a causa dela é resultado de uma injusta distribuição de renda. Só basta fazer uma comparação com a média apresentada pelos países que tem uma renda per capita semelhante à brasileira, e que, apesar disso, seus percentuais de pobreza são menores do que 10%, mostrando-se três vezes inferiores ao observado no Brasil.
Apesar de que as distâncias entre ricos e pobres são mais visíveis nas cidades, nas quais vive quase 80% da população brasileira, a desigualdade também pode ser verificada no campo, no qual convivem, por um lado, imensos latifúndios e grandes empresas rurais, que monopolizam quase totalmente as áreas agrícolas do país, e, por outro, milhões de pequenos proprietários e de trabalhadores rurais vivendo em dramáticas condições de vida. O índice GINI fundiário mostra que a porcentagem da área total ocupada pelos 10% dos maiores imóveis chega a 78% do total da área rural do país. Apesar desse quadro assustador, o país está realizando um esforço continuado para melhorar a situação de pobreza extrema, e, fundamentalmente, a desigualdade de renda. De acordo com os dados do IPEA (2007), o nível de desigualdade na distribuição dos rendimentos do trabalho, é o menor dos últimos 30 anos. Conforme o coeficiente de GINI, entre 2001 e 2006 a desigualdade caiu mais de 6% no período, que mostra que houve um aumento efetivo de renda para os 70% mais pobres, enquanto os 10% mais ricos perderam rendimentos nessa seqüência. Já em 2004, com a efetiva atuação do Estado e a retomada do crescimento, a pobreza extrema foi reduzida em 4,9 pontos percentuais, e a pobreza 2,7 em direção a 2010. Desse modo, o Brasil caminha para a democracia e o desenvolvimento, apesar daqueles que não acreditam nisso.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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