quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

CRÕNICA DOS BOXEADORES QUE VOLTARAM

O artigo “Eles pediram para voltar..” publicado num jornal de Joinville em 20/08/2007, trata os boxeadores cubanos como “deportados” para justificar a afirmação de que nosso governo está ao serviço do “ditador Fidel Castro”. Como sociólogo, não consigo ficar incólume ao impacto de uma versão carregada de juízos de valores, muito ao gosto da mídia conservadora. Na verdade, não existe nenhuma portaria ou decreto que configure o caso como “deportação”. Os cubanos Guillermo Rigndeaux e Erislandy Lara nunca tiveram muita certeza do que estavam fazendo. A saída dos atletas da Vila do Pan-Americano foi mais uma aventura vulgar do que outra coisa. Misteriosamente, os dois esportistas apareceram na região dos lagos, numa pousada de Praia Seca, acompanhados do empresário alemão Thomas Doering e um cubano surgido do nada. Estes, num arroubo de generosidade, teriam dado dinheiro aos pugilistas para desfrutarem das maravilhas do capitalismo tropical. Nossos amigos oprimidos aproveitaram cada minuto das delicias burguesas, cheias de riso, sexo e cerveja. As damas de companhia ainda estão saboreando o dinheiro que ganharam dos lutadores da nação caribenha. Foram cinco dias de felicidade. Tanta fartura deixa qualquer um louco, não é?
O magnífico sonho só terminou quando os cubanos foram abandonados na pousada pelo alemão e seus comparsas, que saíram do país candidamente. As promessas de glória e dinheiro eterno talvez tenham deixado de interessar a empresa Black Star, idealizadora do projeto de levar os pugilistas para Alemanha.
Quando nossos amigos sentiram a falta dos gerenciadores beneficentes, no final do entardecer aconchegante da Praia Seca, foram caminhando até a Prefeitura de Araruama. O celular pré-pago que tinham ganhado dos “amigos” serviu para chamar a polícia. Os acontecimentos posteriores todos já sabem. Pobres cubanos, foram enganados pelo diabo germânico, na terra de Fausto.
Victor Alberto Danich
Sociólogo

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