quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O RETORNO DOS ESPERTOS

A revista “Veja” (09/05/2007) publicou um artigo de Álvaro Vargas Llosa, diretor do pomposo Centro para a Prosperidade Global, chamado de “O retorno do idiota” no qual faz uma análise das novas políticas adotadas por alguns países da região. Tal artigo reproduz uma visão totalmente comprometida com os interesses de um modelo que associa o mito liberal à globalização irreversível, marcada pela economia de mercado, expressão capenga do progresso indefinido da velha ilusão do século XIX, hoje revitalizada. Tal artigo, veiculado por uma revista suspeita, ridiculariza qualquer tipo de iniciativa dos governos locais, como também intelectuais de peso no cenário mundial. O que quer que aconteça, além das tragédias ocasionadas pela onda neoliberal da década de 90, os ideólogos de tal modelo nos dizem que o mundo está no caminho do capitalismo integral. O único empecilho são os “métodos ineficazes das novas gerações de revolucionários” que tentam sabotar um projeto assentado na prosperidade e oportunidade para todos. Apesar de que a realidade desmente tal crença, lá estão os gurus para explicar que tal leitura é falsa, resultado do “ego fraco dos nossos povos” “profundamente ressentidos” por não ter acesso à mobilidade social. Tal retórica tenta eliminar para sempre contribuições importantes para entender a história latino-americana. Entre elas se encontra o fenômeno do desenvolvimento e subdesenvolvimento, principalmente a teoria do imperialismo. Essa manobra serve apenas para ocultar os ideais progressistas dos anos setenta, que se apresentavam como a esperança de um mundo mais justo e fraterno. Os astutos espertos, donos das riquezas concentradas globalmente, calam o fracasso da euforia neoliberal dos anos 90 de governos mascarados de democracia formal, mais que na realidade eram manejados por grupos elitistas e corruptos. O que temos hoje? Um mundo dominado por monstruosas megaempresas sem fronteiras, consumos fantasiosos e grande concentração de riqueza no centro e nas periferias. O lado oposto desse poder é a expansão da miséria, das rebeliões islâmicas, dos indígenas de Chiapas, dos excluídos e refugiados da Europa Oriental, do parasitismo financeiro e da ascensão global das redes mafiosas. O projeto de decomposição cultural realizado por publicações de tal natureza, que tenta substituir as crenças coletivas igualitárias fundamentadas nas identidades nacionais, por outras centradas nas diversas formas de egoísmo individualizante e depreciativas, apenas serve para justificar o parasitismo predador das forças produtivas, sustentada por uma ideologia destruidora de qualquer iniciativa que tente impedir os “espertos” de continuar construindo seus mundos de riquezas particulares.
Victor Alberto Danich
Sociólogo – Prof. Do Centro Universitário de Jaraguá do Sul - UNERJ

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